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Milton Nascimento chora, canta com amigos e homenageia Gal em show de despedida

Cantor, de 80 anos, fez última apresentação da carreira neste domingo (13)

Música|Do R7

Milton Nascimento em seu último show na carreira, no Mineirão
Milton Nascimento em seu último show na carreira, no Mineirão

Visivelmente emocionado, Milton Nascimento dedicou sua última apresentação nos palcos à cantora Gal Costa, que morreu no último dia 9 de novembro. No domingo (13), no estádio do Mineirão lotado — a produção divulgou um público de 60 mil pessoas —, Bituca pôs um ponto final em suas apresentações ao vivo, depois de uma carreira de seis décadas.

O ato derradeiro de "A Última Sessão de Música", a turnê que percorreu cidades do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa durante todo este ano, reuniu os principais sucessos da longa discografia do cantor e compositor carioca/mineiro.

Estiveram no roteiro canções como Morro Velho, Travessia, Encontros e Despedidas, Cais, Coração de Estudante, Cálix Bento, Tudo o que Você Podia Ser e Canção da América.

No meio da apresentação, que durou mais de duas horas, Milton chamou ao palco companheiros dos tempos do Clube da Esquina — neste ano, o Volume 1 do Clube, de 1972, foi eleito o melhor disco da música brasileira por um júri convidado pelo projeto Discoteca Básica.


Os músicos Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta dividiram com Bituca as músicas Para Lennon e McCartney e Um Girassol da Cor de Seu Cabelo. Ausências sentidas, entre os convidados, foram Joyce Moreno e Alaíde Costa, duas vozes femininas que têm histórias marcantes com o Clube da Esquina e, sobretudo, com Milton.

Outro convidado de Bituca foi Samuel Rosa. Juntos, eles relembraram mais uma do Clube, Trem Azul, composição assinada por Lô Borges e Ronaldo Bastos, esse último letrista importante dentro da obra de Milton, assim como Fernando Brant (1946-2015). Para o último, Bituca soltou um caloroso "Eu te amo!".


A última apresentação de Milton encerrou uma semana difícil e de muita emoção para os fãs de música brasileira. Isso porque a saída definitiva de cena de Gal Costa, aos 77 anos, e o afastamento de Milton dos palcos, aos 80 anos — o artista promete não deixar de compor nem de cantar, mas as marcas do tempo já se tornam evidentes em seu corpo —, põem em marcha uma mudança de cenário inédita no que se convencionou chamar de MPB — a música popular brasileira.

A MPB e as novas gerações


A geração pós-bossa nova, da qual Gal e Milton fazem parte, não está acostumada às despedidas. As últimas que causaram impacto foram de Elis Regina (1982) e Clara Nunes (1983). Já se passaram 40 anos. Elza Soares, que morreu em 2021, foi conectada injusta e tardiamente como referência para a geração atual.

Milton e Gal, assim como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Edu Lobo, Nana e Dori Caymmi, Ney Matogrosso e tantos outros, têm carreiras mais longevas que a geração do rádio ou da própria bossa.

Dalva de Oliveira e Angela Maria, divas que influenciaram Gal, Bethânia, Elis e até Milton, não ressoam diretamente na geração atual. Gal e Milton ficarão por muito tempo na cabeça dos futuros músicos e cantores.

No último show de Milton, o jovem Zé Ibarra, um dos vocalistas da banda Bala Desejo, é um dos seus discípulos. Ele esteve presente na maioria dos shows de Milton como músico e vocal de apoio. Ibarra e seu grupo também se espelham claramente em Gal, Gil, Caetano e Bethânia.

No velório de Gal, o cantor e compositor Silva, gravado pela baiana no disco A Pele do Futuro (2018), rendia homenagem a uma de suas influências musicais. Maria Gadú, que gravou vocais em Cuidando de Longe, canção lançada por Gal também em 2018, sabia o caminho que a cantora baiana abriu para que sua geração pudesse se mostrar livre e inteiramente.

No Mineirão, o público e a equipe de Milton puseram em prática o mantra das redes sociais: ninguém solta a mão de ninguém. Na despedida de Gal, faltou isso, sobretudo de seus pares da classe artística.

As histórias musicais de Gal e Milton se cruzaram tardiamente, em 1978, quando a cantora gravou Paula e Bebeto, parceria de Bituca e Caetano Veloso. Era a primeira vez que ela gravava Milton, depois de mais de dez anos de carreira. A música é uma celebração ao amor. "Eles partiram por outros assuntos, muitos / Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito", diz a letra. A mais pura tradução deste momento.

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