Toquinho faz 50 anos de carreira com Vinicius ao lado
"50 anos de carreira não muda nada, faço meus shows de sempre", diz Toquinho
Música|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7
Há cinco décadas ele vem caminhando, caminhando, à procura de um lugar, que hoje é dele, inegavelmente. Assim que sobe ao palco, montado ao ar livre no Sesc Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, na noite deste sábado (19), Toquinho faz questão de lembrar seu maior companheiro, com quem ficou uma década na estrada: Vinicius de Moraes.
A noite é fria, com sensação térmica próxima dos 10 graus. O vento é cortante. Mas, assim que surgem os primeiros acordes de Tarde em Itapoã, é como se o ar quente da Bahia e de uma das mais belas parcerias da Música Popular Brasileira aquecesse o ambiente.
Toquinho tem música doce, sofisticada, que toca profundo com sua voz inconfundível.
50 anos de carreira
O artista paulistano fez 68 anos no último dia 6 de julho. Está celebrando 50 anos de carreira. O tempo passa rápido.
Toquinho prefere não pensar muito nisso e se concentra em seu violão e nas suas canções. E também no Corinthians, seu time do peito.
Sobre comemorações, deixa que pensem por ele. No camarim, conta ao R7 que não planeja nada. "Quem estão planejando são os outros", revela, encabulado, enquanto toma um café para se aquecer e subir ao palco.
— Para mim, 50 anos de carreira não muda nada, continuo fazendo meus shows de sempre.
Até 2015, estão previstos uma série de shows comemorativos e ainda um grande projeto no qual Toquinho vai cantar com ele mesmo, na juventude, usando a holografia que já foi usada recentemente para ressuscitar Cazuza no palco. Vai aparecer Vinícius também? "Acho que não, ainda estão captando recursos", desconversa. Mas faz questão de frisar a importância do Poetinha.
— Mas, de alguma forma, o Vinícius será sempre lembrado, fatalmente. Não tem como não ser assim.
Universo infantil e protesto
De volta ao palco, Toquinho canta um sucesso atrás do outro. Um dos momentos mais marcantes de seu show é o dedicado às músicas que fez para crianças. Todo mundo vira menino de novo ouvindo Aquarela, O Caderno e até a irreverente canção O Ar, que fez com Vinicius e na realidade dedicada ao pum — composta na Bahia, para uma das netas de Jorge Amado, com revelou a escritora Zélia Gattai, mulher de Jorge, em um de seus livros de memórias.
Mas Toquinho também fala de coisa séria. Politizado, antes de tocar A Tonga da Mironga do Kabuletê, revela que a canção foi composta junto de Vinicius "numa época em que a ditadura militar perseguia o povo e os artistas" e eles tinham "vontade de mandá-la para aquele lugar". E, completa, resoluto, trazendo seu discurso para o presente.
— Infelizmente, após tanto tempo, muita coisa ainda continua igual, com repressão policial nas ruas.
Tripé musical
Voltando ao bate-papo antes do show, Toquinho conta à reportagem qual é o tripé que sustenta sua carreira.
— A parceria com Vinicius, meu relacionamento com o Chico [Buarque] lá no começo e o lado infantil, que conservo com o maior carinho do mundo.
Toquinho ainda tem mais dois shows agendados em São Paulo até o fim deste mês. Nesta terça (22), se apresenta às 19h30 no piso térreo do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo, com entrada gratuita. Já na noite de 30 de julho sobe ao palco do Terra de Garoa, no centro paulistano, ao lado da cantora Joyce Cândido, toca no jantar-show a partir de R$ 190.
Para ele, não é duro trabalhar.