"O Chiclete é o Beatles do axé", define Wadinho, fundador da banda que é um dos ícones do Carnaval
Mais antiga que o axé, banda continua sendo uma das mais importantes da festa
Pop|Helder Maldonado, Do R7
O ano de 2015 vai ser o primeiro em que o Chiclete com Banana se apresenta no Carnaval da Bahia sem a presença de Bell como vocalista da banda. Substituir a figura icônica e carismática do cantor não foi uma tarefa simples para o Chiclete.
Bell estava no grupo desde o início. Era compositor, guitarrista, vocal e líder de uma das bandas que popularizaram as micaretas pelo Brasil, ao lado do Asa de Águia. Mas a vontade de seguir carreira solo já existia há muitos anos e o Chiclete precisou procurar uma nova voz para essa fase de ruptura. O escolhido para o papel foi Rafa Chaves. Com apenas 26 anos, ele é mais novo que a banda, que já soma 33 anos de experiência.
Chicleteiro desde a adolescência, Rafa foi recebido com ressalvas pelos fãs quando entrou na banda. Mas ele garante que hoje já aceitaram a substituição, que não é a primeira. Em 1986, Missinho já havia deixado o vocal do grupo e os fãs também pensaram que o Chiclete não seria mais o mesmo. Resultado: o primeiro disco com Bell à frente da banda, Grito de Guerra, garantiu a venda de 800 mil cópias e nada menos que 23 participações no programa do Chacrinha.
— É um desafio substituir Bell. Ele, Ivete e Durval Lellys influenciam todos os cantores da Bahia. Qualquer mudança repentina causa um choque. Mas o chicleteiro gosta da banda de uma forma geral. Então aceitaram a troca.
Segundo Wadinho Marques, irmão de Bell e tecladista da banda, a saída do cantor foi uma surpresa para os músicos. Eles sabiam que existia a vontade por parte do cantor, só não pensavam que seriam avisados apenas quatro meses antes do desligamento oficial.
— Ele poderia ter avisado antes. Mas pelo menos esteve ao nosso lado para cumprir todos os compromissos até o fim. Entendemos perfeitamente a decisão de Bell. Não pensamos em parar e os chicleteiros nos motivaram a continuar. Escolhemos Rafa Chaves e o público gostou bastante dele. Só chicleteiro mais xiita que ainda reclama a ausência de Bell.
No Carnaval, a nova formação da banda continua com a mesma força de antes. Em 2014, o Chiclete vai enfrentar uma verdadeira maratona de shows no período. Entre quinta e sábado, a banda toca quatro vezes em Salvador. No domingo, se apresenta em Votuporanga (SP) e Ouro Preto (MG). Na segunda, volta à Bahia e terça finaliza a participação no Carnaval com show no Piauí. Rafa Chaves diz que está preparado para encarar essa rotina puxada.
— Para aguentar todos esses shows e viagens em tão poucos dias, é preciso muita preparação física, paciência e se acostumar com as poucas horas de sono. O Carnaval merece esse esforço.
Uma instituição do Carnaval
O Chiclete com Banana nasceu três anos antes do termo axé ser criado pelo jornalista Hagamenon Brito, em 1985. Porém, a banda atuava desde a década de 70, quando ainda se chamava Scorpius e tocava no circuito de shows de bailes de formatura.
Oficialmente, o nome que consagrou a banda surgiu com a gravação do primeiro disco, Traz os Montes (1982), e tenta explicar a mistura sonora que traz rock, afoxé, samba-reggae, ritmos latinos e africanos.
— As experiências e fusões musicais que nossa geração criou são semelhantes à do Tropicalismo. A diferença primordial é que o tropicalismo surge em um momento de ditadura militar e lida com temas mais sérios nas letras.
Muito além da importância no axé e no Carnaval, o Chiclete com Banana tem responsabilidade por ser um dos grupos que levaram as micaretas para fora da Bahia. Ao lado do Asa de Águia, o grupo fez com que esse tipo de show (que traz um trio elétrico em uma área aberta de shows) com o tempo virasse um formato usado até por sertanejos.
— Antes, eventos assim só aconteciam no interior do nosso Estado. Nós e o Águia começamos a levar essas festas para outros locais e criar o Carnaval fora de época.
Com esse formato de shows, a banda começou a ser seguida pelos fãs como um time de futebol. Os chicleteiros, como são conhecidos, se intitulam "torcedores" e, claro, entoam gritos de guerra e se vestem com abadás, que são como uniformes. Essas camisetas trazem o logotipo da banda e de patrocinadores e servem como ingressos para entrar nas apresentações. O preço médio é R$ 200 para o Carnaval de Salvador e dá a oportunidade para o folião curtir a banda bem próximo do trio.
— O Chiclete é como Beatles ou Roberto Carlos do axé. O fã costuma ser um cara fiel que segue a banda a vida toda e ainda passa seu fanatismo para os filhos.
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