‘Anora’ quebra expectativas de sonho americano e consagra Mikey Madison como estrela
Filme de Sean Baker é um dos favoritos na corrida do Oscar e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23)
Cine R7|Vicente Andrade*, do R7
O novo longa-metragem do diretor Sean Baker, conhecido por obras como “Projeto Flórida” e “Red Rocket”, chegou às telas brasileiras nesta quinta-feira (23). O filme conta a história de Anora/Ani, uma prostituta nova-iorquina do Brooklyn, que tem a sua vida mudada quando conhece Ivan (Mark Eidelshtein), filho de um oligarca russo.
Os primeiros minutos do filme apresentam a protagonista aceleradamente. A atmosfera cosmopolita de Nova Iorque, luzes avermelhadas e clientes caloteiros mostram um pouco de como é a rotina de trabalho dela. A chegada de Ivan é o ponto de partida da narrativa, pois Anora começa a desenvolver uma relação com o herdeiro russo que vai além da casualidade.
Quando a protagonista conhece os amigos do filho do oligarca, que, por sinal, possuem a profundidade de um pires, uma atmosfera de série adolescente paira sobre o filme por alguns minutos. Mas é justamente após este momento que o filme engrena de vez, visto que Ivan propõe Anora em casamento. Não demora muito para a americana descobrir que o que parecia ser um sonho, na realidade, é um pesadelo.
A família de Vanya, apelido dado ao russo, não aceita a nova-iorquina de forma alguma e faz seus capangas irem imediatamente acabar com o matrimônio. O que a americana não enxerga é que Ivan usou ela como uma forma de conseguir um green card, documento garantido a um estrangeiro no casamento para viver nos Estados Unidos, assim ficando longe de seus parentes na Rússia.
É justo afirmar que Mikey Madison rouba o filme para si em cada sequência. Não é só nas luzes neon e em salas privativas que Anora brilha. O carisma da atriz e a naturalidade ao interpretar a protagonista reluzem sobre a tela. O grande trunfo do filme de Baker é a realidade brutal na qual é ambientada a história dos dois. Para a americana, Ivan é o seu passaporte para uma vida melhor. Já para o russo, Ani é apenas mais uma aventura.
Acima de tudo, Anora fala sobre guerra de classes. É sobre como os capangas dos parentes de Ivan dão o sangue para a família e não são reconhecidos, e sobre como Ani jamais seria aceita pelos pais do russo e muito menos por ele. O longa aponta como os personagens do filme, os quais são da elite, enxergam demais pessoas como serventes, não como seres humanos. Por isso, a vulnerabilidade da protagonista vem apenas nos últimos minutos com o seu choro, já que seu único sonho era ser vista como uma pessoa, não como um objeto.
O final catártico dispensa diálogos para ser compreendido. A fragilidade da atriz nos braços de Igor (Yuri Borisov), que foi a única pessoa que deu suporte a Anora no decorrer do filme, é facilmente uma das cenas mais impactantes do cinema em 2024.
*Sob a supervisão de Filipe Siqueira
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