'Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes' é o filme mais divertido de 2023 que você ainda não assistiu
Adaptação do RPG de mesa com Chris Pine e Michelle Rodriguez está disponível na plataforma de streaming Paramount+
Cine R7|Bruno Araujo, do R7
Um dos filmes mais divertidos de 2023 entrou e saiu de cartaz, já está no streaming e você, muito provavelmente, nem ficou sabendo. Mas é por isso que o Cine R7 está aqui para dizer que, no fim de semana de estreia de As Marvels, o que você deveria ver mesmo é Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes.
A nova adaptação do mais popular RPG de mesa do mercado, daqueles que você interpreta um personagem e joga com papel, caneta e dados, tem um carisma contagiante, faz referências ao material original sem depender dele e é honestamente engraçado. Um filmaço de ação e fantasia que se contenta em ser... Um filme, uma obra de entretenimento que se resolve por si só e não busca apenas ser parte de um universo, como parece ter virado habitual na cultura pop.
D&D sim, mas com as próprias pernas
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes acompanha o bando liderado por Edgin, um bardo meio músico, meio malandro, meio garganta, numa interpretação inspirada do astro Chris Pine. Edgin escapa após anos preso e parte em uma aventura atrás de um grande tesouro e de um artefato capaz de ressuscitar a sua esposa.
Para isso, ele conta com a ajuda de um grupo de heróis com habilidades próprias, como nas classes do RPG de mesa.
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A bárbara Holga (Michelle Rodriguez) é uma guerreira veterana com um gosto peculiar para interesses românticos. Simon (Justice Smith) é um feiticeiro incompetente que ganha a vida com truques baratos. Doric (Sophia Lillis) é uma druida capaz de assumir formas animais, das mais prestigiadas (um urso-coruja musculoso) às mais patéticas (um ratinho de esgoto). E Xenk (Regé-Jean Page) é o paladino, o cavaleiro que dedicou a vida à doutrina.
Juntos, eles encaram o ex-membro da trupe e vigarista Forge (Hugh Grant), seu time de magos malvados e é meio que isso. Fim da sinopse, bora para o filme, obrigado, até logo, continue ligado aqui no Cine R7.
Parece deboche, mas é que tudo que acontece nas duas horas subsequentes de Honra Entre Rebeldes é narrado com leveza, com certa despretensão, e voltado à conclusão da jornada de Edgin e do seu grupo. E isso é ótimo.
Quando tudo sempre parece pertencer a algo maior do que aquilo que estamos vendo, quando o tempo presente não é mais importante do que o que está por vir, o filme de D&D acaba sendo um oásis no deserto.
Méritos de John Francis Daley e Jonathan Goldstein, que dividem a direção e o roteiro, e fazem um filme enxuto, mas potente. A história respira o universo de Dungeons & Dragons, suas figuras curiosas, cidades interessantes e histórias em potencial, mas se sustenta com as próprias pernas.
Você ri do ex-marido de Holga, mas porque ele participa de uma situação genuinamente engraçada, com uma acidez bem-vinda, e não porque é uma referência espertinha de um livro de criaturas.
As cenas de ação fazem você dar aquele soquinho no ar de empolgação, mas é porque a invocação mágica de Simon é, em poucas palavras, muito da hora. Tem o movimento das mãos, o visual da magia, a pronúncia do feitiço em voz alta. Impossível não relacionar.
E, visto assim, lado a lado, o elenco é aleatório (e um pouco improvável), mas é justamente isso que deixa ele tão autêntico e carismático. Os grupos de um RPG são essa mistureba de origens e propósitos, um reflexo da personalidade dos próprios jogadores, unida por um propósito: a aventura.
Na verdade, não tem nada mais D&D que reunir um capitão Kirk gato, uma motorista renascida de Velozes e Furiosos, o treinador do Pikachu nos cinemas e uma das crianças de It: A Coisa para ir atrás de um objeto mágico.
Pop e cult
É fato que Honra Entre Rebeldes teve dificuldades para furar a bolha. Estreou junto e precisou disputar bilheteria nos cinemas com Super Mario Bros. — O Filme. E tem um nome que, apesar de ser conhecido e citado à exaustão em atuais gigantes da cultura pop, como a série Stranger Things, é capaz de alienar quem não está familiarizado com seu universo de dragões, bardos e feiticeiros.
“Acho que não vou entender nada”, diz a espectadora de reality shows de ricas e famosas que viu o filme ao meu lado. Após o play, entretanto, ela foi ao delírio.
O retrospecto de filmes de D&D também não ajuda. São dois lançados diretamente para a TV e um primeiro, medonho, do ano 2000, época em que a indústria do cinema ainda acreditava que as adaptações de histórias em quadrinhos, games e outras marcas “nerds” precisavam refundar esses mundos, ao invés de apenas… adaptá-los.
Mas Honra Entre Rebeldes é um baita acerto, feito para fãs, simpatizantes e ignorantes de D&D, e de um tipo cada vez mais raro na era pós-Universo Cinematográfico Marvel.
O medo de recorrer ao saudosismo é grande. Mas Honra Entre Rebeldes tem a vibração de um filme pré-universos compartilhados. Uma trama que tem vontade de ser contada aqui e agora e não quer depender de um próximo episódio para compensar pelo todo.
O filme pode não ter ido bem o suficiente nas bilheterias para garantir uma sequência instantânea. Mas essa não seria a primeira vez que um longa consegue encontrar seu público após deixar as telonas.
Tomara que seja o caso e, desta vez, o streaming possa cumprir o papel que o DVD fez pelo clássico Clube da Luta. Pois ao seguir em direção quase oposta ao que têm feito as produções de cultura pop, com suas tramas megalomaníacas, mas opacas e enlatadas, é Dungeons & Dragons quem merece um universo para chamar de seu.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes está disponível para assinantes da plataforma de streaming Paramount+.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.