Divertido, frenético e nostálgico: 'Super Mario Bros. O Filme' é um ótimo game
Animação dispensa história aprofundada para reverenciar os jogos da franquia — uma aposta arriscada
Cine R7|Filipe Siqueira, do R7
Uma geração inteira aprendeu a jogar videogame nos clássicos primeiros minutos de Super Mario Bros., um game de 1985 que ainda mantém certo frescor. Sem qualquer texto na tela ou tutorial, o jogo ensinava a se guiar por obstáculos, quem eram os inimigos e mesmo usar os power ups. A série, assim como praticamente todas as franquias da Nintendo, é focada em level design — ou seja, é extremamente complexo entender o prazer proporcionado por controlar encanadores em fases psicodélicas sem ter o controle nas mãos.
A obsessão pelo design de cada estágio dos games da Super Mario foi o que tornou tão complexo sequer pensar em qualquer adaptação para os cinemas. E suas qualidades, e a proteção draconiana da Nintendo com criações, atraiu comparações com Apple e Disney.
O primeiro filme Super Mario Bros. (de 1993) foi tão bizarro que chega a assustar. Em um vórtex perfeitamente representativo dos anos 90, personagens de carne e osso (elenco que incluía Bob Hoskins, John Leguizamo e Dennis Hopper) viajam por dimensões paralelas para derrotar um Bowser antropomórfico. Até a frase do pôster parecia errada: "Isto não é um jogo".
Super Mario Bros. O Filme (2023) é algo completamente diferente. É uma animação com a missão principal de referenciar a franquia de games, e tem o ritmo frenético de um bom jogo. É uma aposta arriscada que chega perto de derrapar, mas apresenta elementos o bastante para não apenas ser uma boa animação, mas também lançar as raízes para possíveis sequências.
Narrativa nunca foi o forte de Super Mario. Temos uma dupla de irmãos encanadores de origem italiana, que mora no Brooklyn, acabou de gravar um comercial e agora espera clientes. Pela primeira vez vemos Mario triste: estamos em 2023, o herói tem problemas paternos, ao saber que seus pais não veem com bons olhos o sonho de ser encanador.
Após tentarem salvar o bairro, e terminarem por viajar para o Reino dos Cogumelos — que faz jus ao visual psicodélico característico dos jogos —, as coisas esquentam. A animação apresenta o vilão Bowser, rei dos Koopas, quer dominar o reino, e Mario é uma das únicas esperanças de salvação. Bowser é também um romântico, que deseja entregar o coração à princesa e governar o mundo ao lado dela.
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A história é uma forma de nos apresentar coisas familiares à gerações de jogadores. E o faz em um ritmo absolutamente frenético, que deixa qualquer tentativa de drama em segundo plano. Mario treina com a Princesa Peach para se tornar um herói em um ambiente 2D com obstáculos conhecidos, entende a lógica dos poderes dados por cogumelos, e tenta resgatar Luigi — o irmão medroso que foi parar no Reino das Sombras dominado pelo vilão. Vemos uma invasão de Bowser que lembra certos requintes visuais de Star Wars, assistimos números musicais hilários.
E até contemplamos aquela que foi criada para ser a personagem perfeita para memes: a fofa estrela Lumalee, aparentemente adepta da filosofia niilista de Arthur Schopenhauer, que encontra certa felicidade na tristeza e até na possibilidade da morte. Mesmo com uma curta aparição nos trailers, muitos já ficaram rapidamente vidrados em sua aura caótica.
Tudo é ajudado pelo estúdio Illumination, famoso por Meu Malvado Favorito. As cores intensas necessárias para tornar os mundos de Mario hipnotizarem em tela grande (ou grandíssima, no caso do IMAX), a movimentação que usa como base os controles dos jogos e até os cenários sombrios.
Mas é um filme potencialmente divisivo: quem não jogou os games da franquia ou desconhece as décadas de games e referências internas pode se sentir meio fora da ação. Como entender o motivo de uma invasão grandiosa ser feita na forma de uma corrida de karts velozes? Ou a frase clássica "a Princesa está em outro castelo?" Ou a arena do reino dos Kongs (aqui um vilão forte e abobado)? Vemos até o mapa pixelizado completo do mundo de Super Mario World (Super Nintendo, 1990)!
Por trabalhar com a riqueza mitológica de quase quatro décadas de jogos, a animação é direta e dispensa toda as camadas de ironia, autoconsciência e quebras de quarta parede de fantasias modernas — algumas delas parecem ter vergonha de soar bobas em uma era onde tudo é interpretado e reinterpretado.
Além disso, abre a possibilidade de novos filmes animados, como uma versão espacial (Galaxy) ou ainda uma aventura no estilo Odyssey, no Brooklyn.
Como filme, é possível que nem todos apreciem Super Mario Bros, justamente por ser subserviente aos games da franquia, mas é inegável o principal apelo do longa: ser vibrante, cheio de vida e divertido.
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