‘O Esquema Fenício’ traz respiro para Wes Anderson, apesar de fórmula desgastada
Longa com Benicio del Toro, Mia Threapleton e Michael Cera estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29)
Cine R7|Marcus Francisco*

Wes Anderson é um dos principais diretores do cinema contemporâneo. O autor de célebres filmes como O Fantástico Sr. Raposo (2009) e O Grande Hotel Budapeste (2014), indicado oito vezes ao Oscar ao longo de sua carreira, costuma despertar a curiosidade dos espectadores com suas obras recheadas de estrelas e sua estética ímpar. A da vez é O Esquema Fenício, que concorreu à Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano.
O filme conta a história de Zsa-zsa Korda (Benicio del Toro), um super-rico que sobrevive a um acidente de avião e decide destinar toda sua fortuna para sua filha Liesl (Mia Threapleton), que tem aspirações religiosas. A partir daí, ambos embarcam em uma longa viagem para alinhar os negócios da família.

Um filme de Wes Anderson não é um filme de Wes Anderson sem os costumes do diretor tanto em forma, quanto em conteúdo. A produção tem as características visuais que já são marca registrada do cineasta, como as cores saturadas, cenários sem muita profundidade e a simetria, mas também reproduz alguns de seus vícios de escrita, como os personagens caricatos e as relações estremecidas entre pai e filho.
A essa altura do campeonato, essa fórmula já não tem o mesmo encanto. A estética que transformava os filmes de Wes Anderson em únicos agora soa como uma tentativa de emular suas primeiras obras — problema presente em Asteroid City (2023), último longa-metragem do diretor.
No entanto, O Esquema Fenício sobrepõe esses desgastes e traz um respiro para a filmografia do diretor, se escorando em uma trama divertida e bem humorada.
O personagem de Del Toro, ator que trabalhou com Anderson anteriormente em A Crônica Francesa (2021), é um magnata, pai distante de dez filhos, que preza pelos negócios acima de tudo, e contrasta com a inocência — outro tema recorrente nas obras do diretor — de Liesl, personagem de Threapleton, que além de novata nos filmes do diretor, tem seu primeiro papel de grande destaque na carreira.
O elenco de apoio traz velhos conhecidos do diretor, como Tom Hanks e Bryan Cranston, que protagonizam uma das cenas mais memoráveis do filme, Scarlett Johansson, Jeffrey Wright e Benedict Cumberbatch, sem contar as participações pontuais de Bill Murray e Willem Dafoe, dois de seus principais parceiros de trabalho.
Mas o principal destaque do filme vem por parte de outro novato nas produções de Wes Anderson: Michael Cera. A caricatura dos personagens escritos pelo cineasta casa perfeitamente com o estilo que o ator costuma interpretar.
No filme, Cera é Bjorn Lund, um norueguês especialista em insetos contratado por Zsa-zsa como tutor de seus filhos. O personagem é introduzido na história ao mesmo tempo que a filha do protagonista, intensificando a relação entre os dois.
O misterioso e (aparentemente) indefeso personagem de Cera funciona como um meio-termo entre a ganância de Zsa-zsa e a inocência de Liesl. O tutor parece estar em constante perigo, evidenciado pela composição das repetidas cenas que se passam no avião do protagonista — que sempre coloca Lund em uma certa distância dos outros dois personagens.
O Esquema Fenício proporciona uma experiência agradável ao espectador já familiarizado com a obra de Wes Anderson, mas pode cativar aquele que ainda não teve seu primeiro contato com o diretor texano — muito graças aos novatos Mia Threapleton e Michael Cera, que devem se credenciar ao seleto rol de colaboradores frequentes do cineasta.
*Sob supervisão de Lello Lopes
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