‘Se Não Fosse Você’ é drama perfeito para emocionados, mas tropeça em cenas de vergonha alheia
Adaptação da obra de Colleen Hoover aborda conflitos entre mãe e filha, gravidez precoce, amores complicados e recomeços após o luto
Cine R7|Bianca Fávero*, do R7

Depois do turbilhão de polêmicas que cercou o filme e elenco de É Assim que Acaba, Se Não Fosse Você chegou aos cinemas nesta quinta-feira (23), com a delicada missão de devolver credibilidade às adaptações literárias de Colleen Hoover e, ao mesmo tempo, preparar terreno para o aguardado lançamento de Verity.
A expectativa por grandes emoções já era alta. Afinal, a autora construiu sua fama ao transformar dramas familiares e traumas pessoais em histórias intensas, e agora essa sensibilidade ganhou vida sob a direção de Josh Boone, o mesmo de A Culpa das Estrelas.
Na trama, acompanhamos Morgan (Allison Williams), que precisou amadurecer cedo ao engravidar da filha, Clara (McKenna Grace). Depois da morte do marido e da irmã, as duas precisam aprender a lidar com o luto e verdades que insistem em revisitar o passado. Entre lembranças, recomeços e algumas escolhas cafonas na filmagem, o longa consegue comover os mais sensíveis.
De início, a relação da dupla traz um frescor à la Lorelai e Rory, de Gilmore Girls — vínculo que mistura cumplicidade, proteção e um toque de irritação. Ao longo da história, contudo, essa dinâmica se enfraquece, já que elas se afastam para enfrentar seus conflitos sozinhas. É fácil se identificar com Morgan, que abriu mão dos sonhos para cuidar da filha, ou com Clara, jovem confusa e impulsiva — o que torna difícil escolher um lado.
McKenna Grace captura com mérito a essência de uma adolescente insuportável, com breves atitudes responsáveis ao se deparar com decisões ambíguas da mãe, abalada pela descoberta da traição do marido com sua própria irmã.
Enquanto isso, seu primeiro romance com Miller (Mason Thames) se desenrola em ritmo tão acelerado que toda briga intensa se resolve com um único, e absolutamente mágico, “beijo de amor verdadeiro”. O resultado é uma relação superficial, que poderia ter sido melhor se o roteiro tivesse dado um tempo de respiro.
Como um clichê típico de novela das seis, Jonah (Dave Franco), ex-cunhado viúvo de Morgan, surge como o par romântico compreensivo que se arrepende de não ter se declarado para a protagonista na adolescência.
A ideia do casal parece promissora, pois ambos compartilham das mesmas dores, mas se perde um pouco por dar a sensação de que toda a tensão entre eles poderia ter sido resolvida com uma simples conversa anos antes.
Há ainda escolhas de direção difíceis de defender que tornam algumas cenas simplesmente constrangedoras, como escalar os mesmos atores para interpretarem suas versões mais jovens.
A sequência da piscina, por exemplo, que deveria ser um marco para a relação entre Morgan e Jonah, virou um momento de puro cringe. A expressão de flerte de Dave Franco, que mais parece uma contração de dor, é algo que dificilmente sai da memória.
Um dos principais problemas, entretanto, é a pressa do roteiro para o clímax entre Morgan e Clara. A conversa profunda poderia explorar as mágoas entre elas, mas durou meros cinco minutos de tela, como se todo o drama acumulado em quase duas horas fosse esquecido com frases soltas após uma ressaca de vinho.
Ainda assim, Se Não Fosse Você tem seu apelo. Há emoção, há lágrimas, e há o conforto daquele tipo de história que parece feita sob medida para uma noite chuvosa, um balde de sorvete e o desejo de se envolver sem pensar muito.
*Sob supervisão de Lello Lopes
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