‘Ser ou não ser’, eis a grande questão de ‘Sing Sing’, indicado ao Oscar em três categorias
Filme estreou nesta quinta (13) nos cinemas brasileiros
Cine R7|Giovane Felix
A corrida pelo Oscar está mais acirrada do que nunca, com fortes candidatos nas principais categorias e apostas menos óbvias. Além disso, a premiação deste ano tem sido marcada por polêmicas e, sobretudo, pela extraordinária presença de um filme brasileiro em três indicações — um feito inédito.
Nesse mar de grandes produções, é comum que algumas obras acabem ficando em segundo plano, sem causar o mesmo burburinho que outros candidatos — o que não é, necessariamente, um reflexo de sua qualidade.
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É o caso de Sing Sing, uma das principais apostas da produtora A24 para a temporada e que recebeu três indicações à estatueta de ouro, incluindo Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado.
O longa, que estreou nesta quinta (13) nos cinemas, conta a história de Divine G (Colman Domingo), um homem condenado injustamente que encontra propósito ao atuar em um grupo de teatro com outros detentos na prisão de Sing Sing. Juntos, eles se preparam para estrear uma comédia original.
O filme dirigido por Greg Kwedar se baseia em uma história real, que traz lições de companheirismo e resiliência em um ambiente hostil.
A performance de Colman Domingo, sem dúvida, é o ponto alto da produção. É formidável o trabalho do ator, que equilibra com sutileza a dor e a angústia do personagem, ao mesmo tempo em que se mantém um porta-voz genuíno daquele grupo, repleto de esperança e acolhimento.
São nos momentos em que essas duas nuances se encontram que a atuação de Domingo mais brilha. A direção, ciente disso, potencializa essa entrega, destacando principalmente uma cena no último ato do longa.
Em determinada passagem, um dos membros do grupo evoca Shakespeare em sua frase mais célebre em Hamlet: “Ser ou não ser, eis a questão”. A sentença, que inicialmente surge como parte do exercício de teatro, também evidencia a principal inquietação existencial do longa: como permanecer preso sem perder a própria essência? Como sobreviver ao cárcere sem sucumbir à loucura — “Ser ou não ser?”. A resposta da obra é clara: através da arte.
A trilha sonora também ajuda na construção da atmosfera do filme. Destaque para a canção “Like a Bird”. Composta por Adrian Quesada e indicada a Melhor Canção Original, a música fecha o longa nos créditos finais.
Por outro lado, confesso que me senti distante da narrativa em alguns momentos. A mensagem explícita sobre o poder transformador da arte soa um tanto clichê, o que não chega a ser um problema por si só — Sociedade dos Poetas Mortos, por exemplo, já explorou o tema com maestria.
No entanto, somada ao ritmo lento e a certas passagens que quebram a cadência da história, essa abordagem torna o filme menos envolvente. Infelizmente, não emociona como poderia.
Apesar das ressalvas, é um filme que merece ser visto. Seja pela interpretação do protagonista ou pela ótima sintonia do elenco, composto quase que inteiramente por ex-detentos que originaram a história. Particularmente, não me cativou da forma esperada, mas vale a visita à obra.
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