‘Homem com H’: música teve inspiração em novela e quase foi vetada por Ney Matogrosso
Compositor Antônio Barros, inspirado pelo cantor e por personagem de Dias Gomes, transformou acordeom de música portuguesa em sanfona nordestina

Quem assistiu a Homem com H notou a cena em que Ney Matogrosso se recusa a gravar o forró que dá nome ao filme. Liberdade poética à parte, em alguns trechos do filme, isso realmente aconteceu, mas a história deste sucesso nacional começa bem antes.
O ano era 1973. O paraibano, cantor e compositor Antônio Barros aproveitava o descanso em sua casa. Sem nada importante a fazer, ligou a TV. Na tela do aparelho, Gerson Conrad, João Ricardo e um enigmático cantor com todos os trejeitos possíveis, Ney Matogrosso, dançando e cantando com sua voz aguda a canção O Vira.
Barros ficou maravilhado com aquela apresentação e na hora quis compor uma melodia. Ele queria que a sua música refletisse aquela vibração que estava assistindo. O que já lhe saltou de imediato foi transformar aquele acordeom característico da música portuguesa em uma sanfona nordestina.
Ficou com aquela música na cabeça até que a TV lhe deu outra inspiração. Acompanhando a novela O Bem Amado, de Dias Gomes, surgiu o personagem icônico Odorico Paraguaçu (vivido pelo ator Paulo Gracindo), um político-coronel prefeito de Sucupira e que se mostrava sem escrúpulo algum.
Na cena em que Barros assistia, Odorico soltou mais um dos seus pensamentos: “Eu nunca vi rastro de cobra e nem couro de lobisomem”. A citação do personagem fez Barros correr para a anotar e escrever o resto da letra para aquela música que havia feito ao assistir e ouvir O Vira. Ao concluir a canção, que deu o nome de Homem com H, sonhou alto: quem sabe aquele cantor de voz aguda gravaria essa mesma canção que o inspirou.
A década de 80 entrava sem pedir licença. Em carreira solo, Ney Matogrosso preparava mais um disco. Na seleção de músicas, lá estavam Nilo Romero, Chico Buarque, Rita Lee e tantos outros compositores.
O produtor Marco Mazzola chegou para o intérprete e lhe entregou uma fita. Pediu para Ney ouvir e sugeriu incluir no álbum. Era um forró de Antônio Barros, a Homem com H. Ney ouviu com atenção e já se mostrou convicto que não gravaria. “Nunca gravei um forró”, justificou. O produtor ainda tentou persuadi-lo, mas Ney estava decidido. “Não!”
Mazzola insistiu mais e conseguiu convencê-lo a gravar com a condição que, se Ney gostasse do resultado, entraria no disco. Caso contrário, ficaria de fora. E mais: sugeriu levar a algum amigo e pegar outra opinião.
Foi o que Ney fez. Gravou, pegou aquela gravação ainda não finalizada e mostrou ao amigo Gonzaguinha, filho de Luiz Gonzaga, o rei do Baião. Gonzaguinha ouviu atento e falou com toda sinceridade que lhe era possível: “Ney, se você não gravar essa música, não tem mais ninguém que possa fazer”.
Ney ligou para o produtor: “Você venceu, vou gravar!”. Voltou no dia seguinte ao estúdio e gravou a voz definitiva da Homem com H.
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