Como um irmão protetor revolucionou o rock brasileiro com ‘Estúpido Cupido’
Música gravada por Celly Campello é lembrada até hoje. Disco homônimo foi lançado há exatos 66 anos

“Oh cupido! Vê se me deixa em paz”. Não importa sua idade: em algum momento da sua vida você ouviu esses versos. É a canção Estúpido Cupido, o primeiro rock brasileiro que atinge o fenômeno de massa e coloca, de fato, o rock na atitude, na preferência e na agenda cultural dos jovens brasileiros do final da década de 1950. E pensar que ela quase não foi gravada e só aconteceu por insistência de um irmão protetor.
O ano era 1959. Tony Campello (nome artístico de Sérgio Campello) e a irmã Celly Campello (nome verdadeiro é Célia) já haviam gravado discos pela Odeon. Tudo ia muito bem, em termos de venda e sucesso para Tony, mas não para Celly.
A gravadora fez uma proposta para Tony, com 22 anos e que cuidava dos interesses da irmã, com 16 anos: de uma forma amigável, encerrava o contrato e a irmã não faria mais parte da Odeon.
Tony, o irmão protetor, claro que não concordou. E mais, exigiu que a irmã gravasse mais um LP, como previa o contrato. A gravadora topou, mas tinha um problema (e não era pequeno): não havia nenhuma música para ela gravar naquele momento.
O irmão procurou o produtor da Odeon, Júlio Nagib, e pediu uma música que ela pudesse gravar. Naquela época, a quase totalidade das músicas de rock eram versões de canções estrangeiras, principalmente americanas.
Ele sugeriu uma que Fred Jorge havia feito uma versão. Era Mon Oncle, de Frank Barcellini, Henri Contet e Jean Claude Carriére, que levou o título de Meu Tio, trilha sonora do filme de mesmo nome. Tony achou a canção chata!

Dias depois, Tony acompanhava um executivo da gravadora, Orlando Stefano, até o centro de São Paulo. Falou sobre a busca por uma música para a irmã. Na hora, o executivo lembrou de uma canção, a Stupid Cupid, (de Neril Sedaka e Howard Greenfiled, gravada na voz de Connie Francis), que não virou sucesso porque ela havia sido gravada em 45 rpm (rotações por minuto), enquanto a maioria das rádios e disc-jockeys (os DJs de antigamente, por isso a sigla) tocavam os discos em 78 rpm e tinham preguiça em mudar a rotação.
Ele ouviu, gostou e já levou para o mesmo Fred Jorge fazer uma letra em português. Ele fez, com a mesma temática, mas diferente da original. Tony levou a música e letra para Júlio, que foi direto dizendo que parecia uma novela (Fred Jorge também escrevia novelas) e barrou a gravação da música.
Nunca desista. Tony procurou Oswaldo Gurzoni, que chefiava a gravadora Odeon em São Paulo na época, e levou a canção. Ele ouviu, gostou, aprovou e ainda pressentiu que ia ser um sucesso.
Estúpido Cupido foi gravada por Celly Campello em fevereiro de 1959 e saiu como Lado B de um compacto. Mesmo assim foi um grande sucesso, tocando exaustivamente nas rádios e TVs, tornando-se o primeiro rock como fenômeno de massa.
Com o sucesso, Celly gravou o disco, que levou o mesmo nome da música e foi lançado em 16 de julho de 1959, ou seja, há exatamente 66 anos!
Fonte: Histórias do rock’n’roll no Brasil de 1955 a 1965. Ricardo Bandeira. Belo Horizonte: Bushido Produções, 2022.
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