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Essa eh do Rock

Como o Clube da Esquina inspirou Skank, Jota Quest e outros roqueiros mineiros

Discografia de Lô Borges segue inspirando artistas brasileiros

Essa eh do Rock|Antonio De PauloOpens in new window

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Lô Borges e o Clube da Esquina inspirou, e inspira, bandas no rock até hoje. Conheça a segunda geração do "Rock da Esquina", movimento de bandas inspiradas no clube. E olha que tem até banda inglesa de Indie 2000 neste novo clube Revista Bula

O impacto do Clube da Esquina na música brasileira é imensurável. São diversos os músicos que já declararam a influência do álbum em suas obras, entre eles Samuel Rosa, ex-vocalista do Skank.

Com mais de 50 anos de carreira, Lô Borges lançou 24 álbuns, com parcerias como Milton Nascimento, Beto Guedes, Zeca Baleiro, Paulinho Moska e Samuel Rosa. Como já disse, o Clube da Esquina.


Seu último trabalho foi lançado neste ano, single chamado Relógio (2025), uma parceria com a banda do rock alternativo, Terno Rei.

Seu filho, Juliano Alvarenga, criou o DaParte, banda de indie rock (com influências no britpop como Oasis e Blur, rock clássico e elementos da MPB moderna), com o nome com clara homenagem ao Clube da Esquina. Seu pai e Lô Borges, além de parceiros musicais, eram grandes amigos, conforme já disse na segunda temporada na série Rock in Minas.


No livro de Márcio Borges, irmão de Lô Borges, (Os Sonhos Não Envelhecem: Histórias do Clube da Esquina, 1996) com bastidores da história do Clube da Esquina, ele conta sobre o fã que ligava para a casa dos irmãos Borges perguntando “de que parte” era cada canção. Por isso a homenagem.

“Nossa conexão com o Clube da Esquina vem da infância, da época da escola, quando a gente aprendeu sobre a cultura da nossa cidade. O Clube é o principal conjunto que teve aqui em Belo Horizonte. Nunca escondemos o quanto reverenciou o Clube, principalmente nosso primeiro álbum (Charles, 2018)“, conta Juliano Alvarenga, vocalista do Daparte.


Outros músicos, como Fernanda Takai e Jhon Ulhoa do Pato Fu, também mencionaram a influência de Clube da Esquina em suas composições.

De todo modo, em um olhar técnico, o Clube da Esquina entrega ao gênero nacional novos elementos do rock progressivo para as bandas que já emulavam o britpop, em contraste aos o que já faziam pelo iê-iê-iê e tropicalismo.


Isso inspirou cantores dos anos 70, como também a tríade do pop rock mineiro (Pato Fu, Skank e Jota Quest: todas as três bandas, ao seu tom, com a mineiridade poética-melancólica fusionada do movimento). Tianastacia também.

“Quando os cinco integrantes da Daparte se encontrou pela primeira vez, sentimos que no nosso som tínhamos um pouco desta melancolia mineira herdada do Clube da Esquina como referência. Tava nas nossas melodias, nas letras. Essa é uma herança que o clube da esquina deixou para o rock mineiro”, exemplifica Juliano.

Clube da Esquina e o rock brasileiro

De todo modo, eis a minha missão. Na MPB, em Belo Horizonte, como movimento em si, o Clube da Esquina é indiscutível. Mas... e dentro do rock nacional? Quais legados deixam?

Em uma fria análise: nos 80, o rock brasileiro viveu seu apogeu, com bandas surgindo em diversas partes (São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Brasília), cada um com seu movimento próprio, gerando a primeira grande onda do rock nacional.

Se o punk paulista ou do Distrito Federal; ou o rock carioca, baiano e gaúcho; se distanciavam da sonoridade da MPB, tropicália, bossa nova e iê-iê-iê... em Belo Horizonte aconteciam dois momentos antagônicos.

De um lado, a continuidade da MPB do Clube da Esquina; do outro, o surgimento do black metal mineiro. Ambos distantes da grande onda do rock nacional.

Então, a influência do Clube da Esquina no rock está em outro lado. No rock progressivo, na mão direta de Lô Borges, trazendo sofisticação (da MPB) ao gênero (rock progressivo), como também inspirando músicos mineiros que, mais tarde, participaram da segunda grande onda do rock brasileiro na cena local (Pato Fu, Skank, Jota Quest, Tianastacia, entre outros).

A inspiração do rock no Clube da Esquina

Para compreender o que há de rock em Clube da Esquina, há antes de se entender os aspectos culturais: sonoros, sociais, poéticos e contexto histórico, como explica Juliano.

“No final dos anos 60, e início dos anos 70, o mundo vivia o movimento do Flower power (lema hippie criado em 1965 pelo poeta Allen Ginsberg que simboliza a filosofia da não violência e a oposição à Guerra do Vietnã), e eles (músicos do Clube da Esquina) ouviam Beatles, Jimmy Hendrix, Rolling Stones, coisas do rock daquele momento falando da psicodelia.

E o Clube falava sobre o desejo da liberdade em uma época onde havia impregnado na sociedade um conservadorismo muito grande por parte do Sistema, com letras com poesia muito elaborada para época nunca antes vista em Minas Gerais. Isso impacta no rock até hoje", ensina o vocalista do Daparte.

Rock, MPB e anos 2000

Depois da grande queda do rock nacional, a MPB veio forte no rock nos anos 2000, após o fenômeno Los Hermanos com o sucesso do álbum Ventura (2003). Mas a inspiração dos Hermanos estava muito mais no lado melancólico do samba carioca e bossa nova, como Tom Jobim e Noel Rosa.

Ausente de uma grande mídia (como foi a MTV) que guiasse o rock para o grande público (como um grande rio), ou um grande festival que ditasse o fluxo para o futuro do gênero (a descaracterização do Rock in Rio), o rock perdeu o rumo (como um rio se divide em afluentes), divididos em nichos.

Alguns, até secar.

Brilho eterno de uma arte na esquina

As sementes do British Invasion, plantadas na década de 70 no bairro Santa Tereza, deram frutos agora, que inspiraram o mundo do rock.

Primeiro, vamos para o nacional: a partir de 2015, novas bandas mineiras surgem inspiradas na mineiridade poética-melancólica do Clube da Esquina, como Daparte e Terno Rei, como explica Juliano

“O movimento mineiro é algo que impacta no rock até hoje. As bandas novas, apesar de poucas, elas carregam esse orgulho da referência do Clube da Esquina. O Terno Rei lançou uma versão agora com Lô Borges, uma música do disco novo (Relógio). Terno Rei talvez seja a nossa principal banda nacional, do underground, e que vem crescendo. Nós também fizemos releituras de Clube da Esquina. Espero que essa nova safra do rock brasileiro continue produzindo e homenageando o Clube da Esquina, Milton, Beto e Lô Borges”, conta Juliano.

Se Clube da Esquina inspirou Pato Fu, Skank e Jota Quest nos anos 90, agora estamos vivendo a segunda geração do Rock da Esquina, bandas com referências implícitas do clube em seu som.

E olha. Esse novo clube é grande, já tem um alcance no rock internacional.

Lista Arctic Monkeys Lo Borges X/RevistaMojo

Em 2018, durante o lançamento do álbum Tranquility Base Hotel & Casino, o vocalista do Arctic Monkeys, Alex Turner, incluiu a faixa Aos Barões, de Lô Borges, do álbum de 72, entre outras citações, como influências durante seu trabalho de composição e gravação.

Durante a campanha de divulgação do álbum, Alex divulgou para a revista Mojo uma carta, escrita a mão, com “as músicas que estavam na minha cabeça”, a menção direta a Lô Borges.

Vale lembrar os hiatos. Lô Borges em 1952, em Belo Horizonte, e é músico do movimento do Clube da Esquina, da MPB, confesso inspirado no movimento British Invasion (que surgiu em meados da década de 60) com bandas como The Beatles, The Rolling Stones e The Who.

Alex Turner nasceu no Reino Unido em 1986 e é vocalista do Arctic Monkeys, fundada em 2002, banda de Indie 2000s (indie rock britânico dos anos 2000), conhecida como a segunda onda do BritPop (na primeira onda veio o Oasis e Blur). Lembrando que o Britpop é um movimento dos anos 90 de bandas inglesas inspiradas pelo British Invasion.

Ou seja, Lô Borges se inspirou no British Invasion. E “Arctic Monkeys”, do Indie 2000s, ao buscar referências do British Invasion, se inspirou em Lô Borges.

Juliano conta mais sobre essa história. “O Alex teve uma ´onda´ de se inspirar em filmes do Stanley Kubrick. A partir desta inspiração, ele teve certa inspiração do seu quarto estar ´virado para Lua´, como se o quarto dele estivesse em uma atmosfera especial. E ninguém melhor do que Lô Borges para falar sobre viagens espaciais.

As músicas do Lô se inspiraram em coisas malucas de lugares distantes. Alex buscava energias criativas lunar, e ele achou isso ´no disco do tênis´ (Lô Borges, 1972), na canção Aos Barões. Uma música muito psicodélica. Alex se inspirou nas guitarras nestas músicas", detalha Juliano.

E o que o Lô Borges achou disso?

Juliano teve a oportunidade de conversar com Lô Borges e perguntar sobre a citação surpreendente.

“Um cara tão grande como o Alex se inspirar em uma obra do Lô é genial. Mas o fato era que Lô Borges também era genial. Ele não ligou muito sobre isso... perguntei para ele uma vez o que ele tinha achado, ele tratou Alex como ‘um cara jovem da cena inglesa que está começando agora’, e que ‘ouviu o disco deles e gostou’. E tá certo. Sou fã do Alex Turner e do Arctic Monkeys, mas o grande gênio ai é o Lô Borges”, conclui Juliano Alvarenga.

É. Realmente. Esse Lô Borges era do Rock

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