O empresário José Maria de Alcântara nunca mediu esforços para que Júnior, seu primogênito, tivesse a melhor educação. Desde o maternal até o cursinho pré-vestibular, Alcântara fez questão de matricular Júnior nas melhores instituições de ensino da cidade.
Mas, nos últimos anos, o empresário – que sempre acompanhou de perto os estudos do filho – passou a perceber que as matérias estavam um pouco diferentes do que havia imaginado. Os livros adotados falavam sobre questões que nadam tinham a ver com a profissão a ser exercida e, além disso, vários assuntos abordados colocavam o empresário em uma situação complicada. De repente, o homem que havia trabalhado desde os dez anos de idade para dar o melhor para sua família estava sendo chamado de explorador dos pobres, capitalista malvadão, burguês e por aí vai.
Talvez por isso Júnior estivesse cada vez mais distante, evitando o pai e se dirigindo a ele apenas para pedir a mesada e trocar de iPhone cada vez que o anterior completava um ano de uso. Definitivamente Júnior estava mudado, querendo invadir a propriedade dos vizinhos ricos do bairro ao lado, tentando convencer os funcionários do pai a fazerem greve e falando em acabar com a polícia, classificando-a como símbolo de opressão.
A cada ano que passava, Júnior apresentava piora e tornava-se mais radical. Até que, depois de formado, percebeu que começar uma carreira na área não era uma tarefa fácil, que não tinha noção de como lidar com dinheiro e que não fazia ideia do que fazer para se sustentar, afinal de contas, o combinado era ter mesada somente até a formatura.
Foi aí que Alcântara concluiu que era necessário investir ainda mais para que seu filho passasse por dois estágios: desaprender o que lhe fora ensinado e aprender o que realmente era preciso. O empresário terá de trabalhar dobrado para dar conta da nova empreitada, enquanto o filho ainda tenta entender porque a ditadura do proletariado não entra em vigor de uma vez.
Esta crônica é uma ficção, mas poderia não ser.
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