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Decadente, Rock in Rio destrói sua história com Chitãozinho e Xororó só para ter ‘Evidências’

Artistas sertanejos entram pela primeira vez na escalação do famoso evento musical

Odair Braz Jr|Odair Braz Jr.Opens in new window

Chitãozinho e Xororó no anúncio de seu show no Rock in Rio nesta segunda (29) (CRISTIANE MOTA/Estadão Conteúdo - 29.04.2024)

Você, fã de sertanejo ou sertanejo universitário, gostaria de ter, no Rodeio de Barretos, uma noite com Metallica, Iron Maiden e Slipknot? Aposto que desistiria de ir e xingaria muito no Twitter/X. E foi mais ou menos isso o que fez Roberto Medina, criador do Rock in Rio, ao anunciar uma “noite brasileira” liderada por Chitãozinho & Xororó, dupla que receberá artistas como Luan Santana, Simone (da Simaria) e Ana Castela.

Independentemente se você gosta ou não de música sertaneja, a entrada do gênero no festival é uma deturpação sem limites da proposta do Rock in Rio. Os organizadores deram uma disfarçada chamando de “noite brasileira”, querendo mostrar “diversidade” e “valorização do artista nacional”, mas tudo ficou com cara de uma grande baciada, um prêmio de consolação para cantores e bandas nacionais que parecem ter sido escolhidos sem muito critério. É só a velha turma de sempre com Capital Inicial, Jota Quest, Carlinhos Brown e cia.

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E essa deturpação não tem a ver com o nome do festival, afinal o Rock in Rio nunca foi exclusivamente rock, apesar de o estilo ter sido sempre o carro-chefe. O evento sempre trouxe outros gêneros que tinham algum tipo de ligação com o rock, como Ney Matogrosso, por exemplo. Esticou muito a corda em inúmeras vezes com Claudia Leitte, Al Jarreu, Kate Perry, entre outros, mas este tipo de artista entrava numa cota pop do evento, que também sempre existiu. Cota esta que não consegue abarcar Chitãozinho & Xororó e seus amigos.

E quem diz isso não é este colunista, mas sim os próprios organizadores festival, que já disseram no passado que sertanejo não cabia no Rock in Rio. Roberta Medina falou, no ano passado, que seu evento carioca seguia “uma linha pop/rock” e que não dava para ter música sertaneja.

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Certamente o sucesso de Bruno Marz ao tocar Evidências no The Town, em 2023, mudou a percepção dos Medina (o The Town também é de Roberto). Ninguém afirmou isso, mas é mais do que óbvio que os organizadores querem ver um coral de milhares de pessoas cantando a música que hoje chamam de “segundo hino brasileiro”. Ninguém vai nem lembrar do show dos irmãos sertanejos, não lembrarão que canções eles tocaram e nem o que disseram. Tudo o que vai importar nesta apresentação será Evidências e o vídeo que gerará.

A entrada do sertanejo no Rock in Rio é um sintoma da decadência do evento, que não sabe mais para onde correr para tentar se manter relevante. No passado, o festival apontou tendências e trouxe para o Brasil shows e apresentações surpreendentes, reveladoras, mesmo que não fosse apenas rock.

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Colocar música sertaneja não faz parte de uma suposta ousadia do evento. É apenas se entregar a um modismo que nada tem a ver com o Rock in Rio.

Pensando bem, o Rock in Rio, da maneira como foi concebido, não existe mais. O conceito se perdeu no tempo e isso deveria ser sinalizado para o público. Uma mudança no nome seria bem-vinda. Que tal chamar de Music in Rio ou algo assim? Porque rock mesmo não cabe mais ali. Rock é outra coisa.

P.S.: A edição deste ano do Rock in Rio não tem apenas o “mérito” de escalar sertanejos. Os artistas escolhidos, inclusive os de rock, estão muito abaixo da média. Deep Purple não tem mais condições de fazer show ao vivo, Avenged Sevenfold é horrível, Imagine Dragons é sofrível, Journey é puro suco de nostalgia. É possível que estejamos diante do pior lineup da história do evento. Enfim, é triste.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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