Análise: Empoderamento sem protagonismo não existe
Só é verdadeiramente empoderada a pessoa que não terceiriza suas responsabilidades e assume o papel de protagonista da própria história
Patricia Lages|Do R7
Quando se fala em meritocracia muitos torcem o nariz alegando ser esta a causa das desigualdades sociais. Há ainda os que dizem que ela é injusta, pois, mesmo partindo de condições financeiras e culturais diferentes, o sistema exige o mesmo desempenho de todos.
Eu só queria saber se essas pessoas se submeteriam a uma cirurgia — ou mesmo a uma consulta — realizada por um médico de quem foi exigido menos por ter vindo de uma família pobre, periférica e que passava quatro horas por dia em transporte público de baixa qualidade etc. etc.
Também me parece bastante curioso que as mesmas pessoas que são contra a meritocracia preguem o empoderamento — principalmente nas frentes feministas — com discursos que vão desde o “ela pode” até o “nós fazemos o que os homens fazem até sangrando”.
Se nós somos tão capazes, por que devemos ser avessas ao sucesso por mérito próprio? Empoderamento sem protagonismo simplesmente não existe, assim como o protagonismo sem meritocracia não acontece.
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É óbvio que alguém que veio de uma família rica e abastada, com uma vida social que lhe permitiu fazer uma rede de contatos com outras pessoas igualmente ricas e abastadas, tem mais facilidade em começar uma carreira. Porém, mesmo com todas as vantagens, se esse alguém não tiver talento e não se esforçar para alcançar seus próprios méritos, não vai ser bem-sucedido.
Teoricamente, uma pessoa, cujos pais sejam escritores ou acadêmicos, teria mais acesso à literatura e aos estudos e, portanto, mais facilidades para se tornar um escritor. Mas isso não impediu que eu, neta de analfabeta, filha de mecânico e de vendedora porta-a-porta, me tornasse uma escritora best-seller.
O que a meritocracia me ensinou é que eu precisava ser responsável pelos meus estudos e pelo meu desempenho. Não tive todos os livros didáticos por falta de dinheiro, mas isso nunca foi desculpa para não estudar ou justificativa para notas baixas.
A pouca alimentação, o baixo peso e o cansaço pela falta de nutrientes também não foram motivos para fazer corpo mole ou criticar quem tinha mais condições que eu. Minha mãe exigia notas altas e era isso que ela via no meu boletim. O coitadismo nunca frequentou a nossa casa e dou graças a Deus por isso.
Terceirizar as responsabilidades, culpar o governo e os mais ricos ou justificar os fracassos pela falta de condições não combina com o discurso de empoderamento tão presente nas falas de hoje. Empoderamento tem preço e só quem faz por onde é que chega lá.
Patricia Lages
É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo, palestrante e conferencista do evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard. Apresenta quadros de economia na TV Gazeta e Record TV e é facilitadora da RME para o programa mundial WomenWill – Cresça com o Google.
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