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Análise: O decote que abafou a competência de uma mulher

O assunto na posse da deputada Ana Paula da Silva (PDT-SC) não foi sua competência política, e sim o macacão decotado. Como encarar a questão?

Patricia Lages|Do R7

A deputada estadual Ana Paula da Silva, a Paulinha, durante a posse em SC
A deputada estadual Ana Paula da Silva, a Paulinha, durante a posse em SC A deputada estadual Ana Paula da Silva, a Paulinha, durante a posse em SC

Recém-empossada, Ana Paula da Silva (PDT-SC) — mais conhecida como Paulinha — foi a quinta deputada estadual mais votada do Estado de Santa Catarina. Duas vezes prefeita de Bombinhas, sua administração obteve alto índice de aprovação por parte da população.

Além disso, Paulinha acumula prêmios importantes, como o Troféu Mérito Municipalista por colocar sua cidade na quinta posição do IDMS (Índice de Desenvolvimento Municipal Sustentável).

Sua principal bandeira é a educação e, ao assumir o novo desafio, a deputada declarou em uma rede social: “Começa agora uma linda caminhada pelo nosso Estado!”

Porém, ao tomar posse na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, não foram suas competências políticas que permearam as manchetes, mas sim, o traje escolhido para a cerimônia: um macacão vermelho com um decote mais aprofundado e um blazer de mesma cor.

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Nas redes sociais as opiniões ficaram divididas entre os que a atacaram com todo tipo de comentário negativo — desde as críticas mais leves às ofensas mais pesadas — e os que apoiaram a escolha de Paulinha, alegando que a mulher deve ter o direito de vestir o que quiser, onde quiser.

O que precisa ser analisado, antes de qualquer coisa, é que cada local tem o seu “dress code”, ou seja, seu código de vestimenta. Locais mais criativos e descontraídos permitem trajes informais, porém, locais corporativos com mais formalidades pedem trajes igualmente mais formais, como acredito ser o caso de uma Assembleia Legislativa.

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Se um deputado fosse à cerimônia de posse vestindo jeans e camiseta, a mim pareceria falta de respeito com a casa e com seus próprios eleitores. E se um deputado deixasse certas partes do corpo à mostra também seria bem estranho e, dependendo do caso, até mesmo falta de decoro. Se buscamos igualdade, acho que devemos considerar também essa questão.

Infelizmente, um decote tomou uma proporção muito maior do que a competência de uma das poucas mulheres na política, além de ter colocado em jogo sua reputação diante de muita gente. É certo que nada justifica a violência dos ataques à deputada, isso só demostra o quanto as pessoas “crescem” nas redes sociais, pois provavelmente não a atacariam pessoalmente. Porém, não podemos achar que todo mundo tem de aceitar o que nos parece adequado, ainda que não seja, muito menos rotular tudo o que acontece como violência contra a mulher.

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Achar que cada um deveria poder vestir o que quisesse para ir onde bem entendesse é utópico, afinal, não é porque me sinto indisposta que posso trabalhar de pijama. Existem códigos e todos devemos respeitar sem nos colocarmos em posição de vítimas. Se nós, mulheres, queremos igualdade, devemos também nos colocar em posição de igualdade, ou seja, se um deputado comparece de terno e gravata respeitando o dress code sem se sentir violentado, por que conosco seria diferente?

Enquanto tratamos tudo e qualquer coisa como violência, a verdadeira violência avança. Eu gostaria muito que, em vez de lutarmos pelo direito de mostrar o corpo, lutássemos, por exemplo, por cidades mais seguras, onde possamos dirigir com as janelas abertas e morar em casas sem tantas grades. Isso me faz sentir muito mais presa do que usar uma roupa que mostre menos pele.

Mas, enquanto guardamos nossos bens a sete chaves, lutamos pelo direito de expor o que temos de mais valioso. Sinais dos tempos...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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