O rótulo proibido
Garrafa da Herdade do Esporão foi lançada pouco antes do atentado em Nova York em 2001
A Herdade do Esporão é o maior produtor de vinhos de Portugal.
A vinícola está localizada na região de Monsaraz, que ocupou, durante séculos, uma importante posição de defesa do território do país. A pouco mais de 170 km de Lisboa, o local representa a típica paisagem da região do Alentejo e os seus pequenos povoados de casas brancas, caiadas como as chamam, que são a memória de uma vivência que vem desde a pré-história e foi progredindo pela mão de diversos povos que ali passaram, iberos, romanos, visigodos, muçulmanos e outros vários.
A história medieval da Herdade começa com a reconquista cristã de Monsaraz e da baixa de Reguengos em 1232. Desde aquele tempo o vinho e o azeite são a marca do território. A propriedade delimitada há 750 anos, em 1267, foi chamada inicialmente de Defesa do Esporão e mantém o legado vivo, com a Torre do Esporão, uma das torres mais importantes na transição desse período para a idade moderna e símbolo de afirmação de uma nova linhagem perante a sociedade da época. Esta área foi palco de batalhas sangrentas e de feitos heroicos ao longo de quase 9 séculos de existência.
Diz a lenda que Soeiro Rodrigues, um juiz da cidade de Évora, teria sido o 1º dos seus muitos proprietários até que, em 27 de setembro de 1973, José Roquette e Joaquim Bandeira constituíram a empresa Finagra S.A., comprando a Herdade do Esporão e dando início ao seu bem-sucedido projeto vitivinícola.
A colheita pioneira só foi realizada em 1985 e desde então e todos os anos, um famoso artista português é homenageado nos rótulos da reserva anual do Esporão, inclusive com obras de arte originais, que foram feitas a partir deles no seu museu particular. Trata-se de uma coleção com 38 nomes, entre portugueses e outros artistas de fora - o desenho de 1987, por exemplo, é do brasileiro Rubens Gerschman.
Pois o 1999, tema desta história, trouxe uma polêmica involuntária.
O artista português Pedro Proença decidiu homenagear os mouros que dominaram a península ibérica por 600 anos e desenhou um árabe vestindo turbante e roupa típica, relaxando com uma taça de vinho na mão. O Esporão 1999 amadureceu 12 meses em barricas e depois mais 8 meses nas garrafas. Foi lançado em Portugal, mas quando estava pronto para ser despachado para o mundo todo, principalmente para os Estados Unidos, tiveram que recolher as garrafas por uma terrível coincidência: os atentados à Nova York e às Torres Gêmeas em 11 de Setembro de 2001.
O personagem da etiqueta se parecia muito com Bin Laden, líder da organização Al-Qaeda, que assumiu a autoria do ataque, e o rótulo foi considerado ofensivo. A propriedade decidiu pedir uma nova arte para Pedro Proença e tiveram que substituir a original em todas as garrafas. Entretanto, as garrafas que já tinham sido vendidas se tornaram artigos de colecionador.
Trago aqui as 2 artes para vocês.
Saúde 🍷!
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