O ketchup pode ficar mais caro por causa do aquecimento global
A Heinz, uma das maiores fabricante de ketchup do mundo, enfrenta desafios climáticos que ameaçam a produção de tomates na Califórnia, principal região fornecedora nos EUA
O ketchup é mais que uma simples calda de tomate carregada de xarope de milho. Ele está lá em nossas vidas acompanhando a batata frita, numa mordida de hambúrguer, na receita de estrogonofe e na minha receita de steak tartar. Está até na pizza dos cariocas. Mas, com as mudanças climáticas, os tomates usados no molho, tão cuidadosamente cultivados, estão enfrentando sérios problemas.
O império de US$ 5 bilhões que é a marca Heinz, umas das principais fabricantes de ketchup, depende dessa matéria-prima. São 660 milhões de garrafas de ketchup produzidas anualmente, com 300 milhões apenas nos EUA. Em uma recente entrevista, Pedro Navio, presidente da Kraft Heinz na América do Norte, chamou a Heinz de seu “motor”. Eles têm investido em versões orgânicas e sem adição de açúcar — cobrando mais por isso, claro.
No centro de pesquisa da empresa na Califórnia, a Heinz levou mais de 150 anos evoluindo esse fruto, garantindo que os tomates no campo possam ser processados com eficácia. Essas sementes exclusivas são vendidas para distribuidores, que as vendem para agricultores. E depois, a Kraft Heinz compra os tomates de volta dos agricultores.
Mas a Califórnia, onde os tomates para o ketchup Heinz vendido nos EUA são cultivados, acabou de passar pelo julho mais quente de sua história. Algumas áreas registraram temperaturas recordes, frequentemente ultrapassando os 38°C.
O que isso significa para a safra deste ano ainda está em aberto. Os tomates usados no ketchup não são como aqueles encontrados no mercado. Eles têm pouca água e uma cor vermelha mais intensa.
No Brasil, a safra de verão também foi afetada pela onda de calor, segundo o boletim Prohort, do Governo Federal. As altas temperaturas, em janeiro, aceleraram a maturação do fruto, fazendo com que a oferta fosse aumentada no primeiro mês do ano. Por consequência, houve uma menor disponibilidade do produto em ponto de colheita em fevereiro, indicando um esgotamento da safra de verão, que costuma ser substituída pela safra de inverno somente em março/abril.
Lá em 2007, quando os preços do xarope de milho com alto teor de frutose subiram, a Heinz pensou em criar um tomate naturalmente mais doce. Hoje, a pesquisa da empresa está focada exclusivamente nas mudanças climáticas. Resiliência, calor, estresse hídrico e salinidade do solo estão entre os desafios que Patrick Sheridan, vice-presidente de agricultura global e sustentabilidade da Kraft Heinz, chama de “problemas de longo prazo”.
Segundo artigo publicado nessa semana na agência Bloomberg, a empresa não revela detalhes sobre seus gastos em pesquisa e desenvolvimento, mas diz que investiu milhões de dólares na pesquisa HeinzSeed apenas nos últimos cinco anos, desenvolvendo variedades que possam sobreviver a temporadas de cultivo mais quentes e secas no condado de Merced, na Califórnia. Derek Azevedo, vice-presidente executivo da Bowles Farming Company Inc., um grande produtor da Heinz, diz que essa área é para a pasta de tomate o que Napa é para o vinho.
Ainda segundo a agência de notícia, a colheita deste ano já está em andamento, mas não será concluída até meados de outubro, quando os pesquisadores da Kraft Heinz descobrirão como seus tomates se saíram no calor extremo do verão.
Procurar frutas que possam suportar altas temperaturas faz parte do processo de criação de tomates, mas o calor deste ano foi especialmente intenso e prolongado, o que dificulta a sobrevivência das plantas.
As fazendas podem estar com falta de tomates este ano, mas só o tempo dirá. Se o rendimento for baixo, a Heinz vai se virar. A empresa pode recorrer a estoques de pasta de tomate ou buscar tomates em outras regiões. “No fim das contas, podemos ficar com escassez”, disse Lynn Veenstra, gerente de vendas da HeinzSeed na América do Norte, em 25 de julho, enquanto a onda de calor ainda acontecia.
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