Vestir o número 42: uma roupa, uma lembrança e uma vitória
Cada fase da bariátrica é um marco — e quando o shorts 42 fechou, não foi só sobre roupa. Foi sobre mim

Uma coisa eu aprendi desde que fiz a bariátrica: comemorar pequenas conquistas.
Primeiro, você comemora quando o leite e o caldo de feijão entram na dieta líquida. Depois, quando pode comer alimentos pastosos, brandos… e assim vai. Cada etapa desse processo eu comemoro de verdade.
O emagrecimento também é um grande marco. Comecei com 101 quilos, fui para a casa dos 90, dos 80 e agora estou com 78 kg. Esses dias fui colocar o DIU e o anestesista perguntou meu peso. Fiquei em dúvida — afinal, mudou muito em pouco tempo.
Das pequenas conquistas, caber nas roupas, sem dúvidas, é uma das mais especiais. Eu sempre amei moda, sempre amei me vestir. Muita gente diz que eu sou estilosa, mas confesso: com o excesso de peso, era difícil vestir o que eu realmente queria, sabe? Era sempre o que cabia.
Assim que comecei a emagrecer, fiz um post na internet pedindo roupas das amigas, porque a gente não dá conta de comprar roupas na mesma velocidade do emagrecimento.
E uma delas me deu uma calça jeans tamanho 40, um vestido G, um macacão G e um conjunto de shorts e colete tamanho 42. Esse conjunto é de uma marca do Brás, que trabalha com modelagem padrão.
Agradeci muito pelas peças. Cheguei a provar o que era G e os demais itens guardei no armário.
Até que, na última terça, resolvi encarar aquele conjunto tamanho 42. Afinal, agora com 78 kg... vai que, né?

Ser obeso é também enfrentar vários traumas. E para não ter que lidar com a frustração de ver mais uma peça não fechar na barriga, primeiro medi a largura do shorts no meu pescoço — dizem que o pescoço tem a mesma medida da cintura. E assim fiz. Aparentemente, deu certo.

Foi aí que me senti segura para vestir o shorts. E, para minha extrema felicidade, ele fechou. Nossa, eu fiquei emocionada. Afinal, era uma peça 42! E quanto mais meu cérebro processava essa informação, mais eu me lembrava de um livro que li há muitos anos: Tamanho 42 não é gorda, da série Os Mistérios de Heather Wells, da Meg Cabot.
A história acompanha Heather Wells, uma ex-cantora pop que, após uma fase de decadência, assume um emprego como inspetora numa universidade. Um crime inesperado a leva para uma vida de investigações e aventuras, onde precisa desvendar mistérios e lidar com situações perigosas.
É tudo tão maluco... Eu comprei esse livro não pela autora — que eu já conhecia —, mas porque, na época, eu usava calça 42 e queria afirmar para mim mesma que eu não era gorda. Eu queria que todo mundo tivesse essa visão magra de mim. Talvez até tivessem. Mas a distorção de imagem que carrego desde a infância não me deixava ver isso.
Mas voltando ao look e às pequenas conquistas: vestir aquele conjunto 42 me deu uma injeção de autoestima, um brilho no olhar, uma segurança de que eu posso, sim, voltar a frequentar o Brás e o Bom Retiro — lugares que deixei de ir depois que engordei e saí dos tamanhos padrão da moda. Afinal, infelizmente a moda não é inclusiva de verdade.
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