‘Lilo & Stitch’ prova que é possível renovar uma história querida sem esquecer a essência original
Entre nostalgia e atualização, o novo live-action da Disney aposta nos vínculos afetivos para contar a história
Cine R7|Maria Cunha

Qual é a melhor forma de adaptar uma animação para o live-action? Ser fiel cena por cena ao material original? Atualizar a história para um novo público? Acrescentar personagens ou conflitos inéditos? Lilo & Stitch, nova adaptação da Disney, não oferece uma fórmula definitiva, mas prova que é possível renovar uma história querida sem abrir mão da essência que a tornou um sucesso.
O filme acompanha Lilo (Maia Kealoha), uma criança órfã e solitária do Havaí que constrói uma amizade inesperada com Stitch (Chris Sanders), um alienígena programado para destruir tudo o que toca. Lilo vive sob os cuidados da irmã mais velha, Nani (Sidney Agudon), que luta para manter a guarda da menina diante das exigências dos serviços sociais.
A responsável pelo caso agora é a Sr.ᵃ Kekoa, vivida por Tia Carrere (voz original de Nani na animação), em uma reformulação que busca tratar o drama familiar com mais realismo. Já Cobra Bubbles (Courtney B. Vance) assume um papel reduzido, o que representa uma perda simbólica para os fãs, embora compreensível dentro da nova proposta.
A atuação de Maia Kealoha, em sua estreia, é um dos grandes acertos do longa. Com carisma e naturalidade, ela transmite a doçura e o sofrimento de Lilo sem soar forçada ou caricata. O desempenho da artista sustenta algumas das cenas mais tocantes e contribui para a autenticidade do filme.

Ao lado dela, Sydney Agudong também se destaca, e a relação entre Nani e Lilo — pilar emocional da animação de 2002 — ganha ainda mais profundidade. A irmã mais velha é retratada como uma adolescente que precisa abdicar de seus próprios sonhos para conseguir um emprego e providenciar um seguro de saúde — tudo para manter a pequena família unida.
O roteiro, assinado pelo havaiano Chris Kekaniokalani Bright, consegue equilibrar fidelidade e renovação. Os temas centrais da animação — perda, pertencimento e responsabilidade familiar — permanecem, agora com nuances mais maduras. O conceito de ohana (família), que inclui tanto parentes de sangue quanto os escolhidos, é respeitado e reforçado com sensibilidade.
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A direção de Dean Fleischer Camp, do elogiado Marcel, a Concha de Sapatos, é um dos pontos fortes do filme, por privilegiar o lado humano da história sem sacrificar o encanto do original.
Sua abordagem intimista — com o uso frequente de planos baixos que colocam a câmera na altura de Lilo e Stitch — reforça o ponto de vista infantil e integra a fantasia ao cotidiano de forma orgânica. É uma condução sensível, que justifica plenamente a decisão de levar o longa aos cinemas, contrariando os planos iniciais de um lançamento direto no streaming.
Dessa forma, no live-action, algumas cenas memoráveis da animação, como Lilo ensinando Stitch a ser um “cidadão exemplar” inspirado em Elvis Presley, foram substituídas por momentos mais realistas — como a menina ensinando o alienígena a pedir desculpas. A troca pode desapontar os fãs mais nostálgicos, mas ajuda o novo filme a encontrar sua própria voz.
Mudanças como a transformação temporária de Jumba (Zach Galifianakis) e Pleakley (Billy Magnussen) em humanos também rompem com a estética original, embora a interpretação dos atores — como dois extraterrestres disfarçados de pessoas — se destaca pelas risadas que proporciona. Já a ausência de Gantu leva Jumba a assumir um papel mais vilanesco, o que enfraquece a dinâmica de parceria que os fãs conheciam.

O CGI dos dois personagens, assim como o de Stitch, se mistura de forma fluida aos cenários físicos do live-action — um trabalho bem executado em conjunto com a direção de fotografia.
O alienígena azul, recriado inteiramente por computação gráfica, mantém seu visual caótico e adorável, com olhos expressivos e textura convincente, elementos que contribuem para o tom emocionante de algumas das principais cenas.
A ambientação havaiana é parte fundamental da fusão entre o extraordinário e o cotidiano em Lilo & Stitch. Filmado em locações reais, o longa valoriza a cultura local com respeito — seja na presença da dança hula, seja no uso orgânico do idioma havaiano nos diálogos.
A trilha sonora segue a mesma linha: enquanto mantém canções tradicionais, apresenta novas versões dos clássicos de Elvis, como Burning Love, assinada por Bruno Mars e interpretada por seus sobrinhos, Nyjah Music e Zyah Rhythm.
Ao contrário de outras adaptações recentes da Disney, que priorizaram o espetáculo visual em detrimento da emoção, como O Rei Leão, Lilo & Stitch aposta no afeto. Ainda que nem todas as escolhas agradem a todos, o filme acerta ao valorizar a intimidade, a dor e os vínculos entre os personagens.
Assim, o novo Lilo & Stitch cumpre seu papel ao divertir e emocionar diferentes gerações. Os adultos, que cresceram com a animação, talvez se identifiquem com Nani e as exigências da vida adulta. Os mais jovens encontrarão em Lilo e Stitch um reflexo de sua própria busca por pertencimento. Afinal, se ohana quer dizer família — e família quer dizer nunca abandonar ou esquecer — este é um dos live-actions da Disney que merecem ser lembrados.
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