Difícil relação entre mãe e filha é tema de drama psicológico
“Sra. Capa” convida o leitor a trafegar por um dos temas mais complexos da psicanálise, e o mergulha numa jornada de amor, ressentimento e reparação
Ligia Braslauskas Literatura|Do R7 e Ligia Braslauskas
A figura materna é o objeto de fascínio de todo bebê, mas para a psicanálise a menina se afasta da mãe para que o Édipo aconteça. Tal distanciamento não ocorre de forma pacífica, e geralmente é imerso em hostilidades, contribuindo para que o forte laço entre mãe e filha trafegue pelo ressentimento, e até mesmo o ódio. Por outro lado, a relação com a mãe não será, de todo, abandonada, ela vai marcar o futuro da menina com o pai, o marido e a maternidade.
Em “Sra. Capa”, drama psicológico de estreia de Fabiana C.O, Sol é uma mulher que desde a adolescência fantasia sua mãe com uma imensa capa vermelha. Entre os sentimentos de amor e admiração, ela mergulha em sua própria história ao se deparar com mágoas ocultas, nunca observadas. A inspiração para o livro começou com a figura da minha mãe, ainda em 2019.
“Quando entendi que a minha observação era válida, eu construí e desenvolvi a história por meio do relacionamento da Sol e da Ana (mãe). Estruturei a história por meio do olhar da filha, e de como o uso da capa precisava ser questionado como algo familiar e enraizado nas gerações. Eu entendi que para falar sobre capas e afins, eu deveria começar com o primeiro relacionamento que temos: que é com a nossa mãe”, conta a autora.
Narrado em primeira pessoa, “Sra. Capa” reflete sobre a depressão, o luto e as cobranças que cercam o universo feminino. É uma obra que oferece ao leitor um relato afetuoso, por vezes dolorido, e joga luz sobre a capacidade do ser humano em ressignificar histórias, e partir para uma jornada de autodescoberta.
“Falar sobre depressão tem sido uma missão de vida. Eu passei muitas crises desde os meus 15 anos de idade. Posso dizer que experimentei a doença e convivi em grau ‘leve’ com ela por mais de 15 anos”, diz. “Depois que me tornei mãe, percebi que precisava achar a minha cura. Foquei em fazer pelas minhas filhas e por mim. Mas entendi durante o meu processo, que precisava primeiro me amar e depois amar o próximo. Desde 2016 eu iniciei imersões em um curso de desenvolvimento pessoal. Já fazia terapia e estava nessa busca pelo autoconhecimento e consegui por meio das imersões conhecer os meus nós, e ressignificar parte da minha história e traumas.”
“Sra. Capa” chega ao mercado editorial em um momento em que nunca se falou tanto sobre saúde mental. É um livro que cutuca o leitor sobre a importância de ser ouvido, mas também de saber ouvir. É uma obra sobre a aventura do autoconhecimento.
“’Sra. Capa’ também tem como objetivo falar sobre a depressão. Fazer o leitor olhar para a doença e entender que uma história de vida pode proporcionar os mais diversos sentimentos. Sim, a depressão existe, e precisa ser olhada e tratada. Desejo gritar que por trás das mulheres temos dores, capas e temos a necessidade de conexão”, finaliza a autora.
“Sra Capa”
184 páginas
R$ 39,90
Independente
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