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Melhor Não Ler

“Menino prodígio” passa nos vestibulares mais concorridos do país

Estudante recebeu nota máxima nas faculdades mais renomadas do Brasil, mas ainda não sabe qual carreira seguirá

Melhor Não Ler|Do R7

Geninho se "desdobrou" um bocado para ser o orgulho da família

Eugênio da Silva, 38 anos, nascido no pequeno município de Conceição da Jararaca, poderia ser mais um entre tantos brasileiros que sonham em fazer faculdade e ser alguém na vida. Porém, o rapaz humilde do interior mudou-se para a capital determinado a vencer, ainda que seus pais tivessem que fazer muitos sacrifícios. A começar pelo aluguel da república onde Eugênio foi morar desde os 20 anos de idade.

Como precisava “manter o foco”, Eugênio explicou ao pai que não tinha condições de trabalhar e estudar ao mesmo tempo e que precisava que ele lhe enviasse dinheiro todos os meses. Seu Maneco não entendia como Eugênio ainda não havia concluído o ensino médio mesmo depois de tantos anos estudando. Costuma ser assim com gente do interiorzão, eles não entendem como é a vida na cidade grande. Fazer o quê?

Além da mesada, Eugênio costumava pedir uma graninha extra, pois precisava comprar roupas e tênis bacanas para não sofrer bullying: “’Painho’, ‘painho’... o senhor não sabe como minha vida é difícil. Eu tenho vontade de desistir de tudo, mas faço esse esforço por nossa família”, dizia Eugênio ao telefone.

Como filho nenhum de Seu Maneco passaria necessidade, o homem dava duro na lavoura e fazia tudo quanto é bico para mandar o dinheiro que fosse preciso para o seu rebento. A mãe, que vivia passando necessidade, não concordava muito, mas Seu Maneco dizia: “Filha, nosso ‘Geninho’ um dia vai ser o orgulho da família!”. Pois dito e feito!


Depois de toda dedicação, Eugênio terminou o ensino médio, mas foram necessários mais três anos de cursinho para ele, então, se sentir preparado para enfrentar o vestibular. Foi tanta pressão que Geninho precisou de terapia para controlar o estresse e a ansiedade, mas a família deu um jeito: dona Deusa, a “mainha”, passou a trabalhar fora para bancar a terapia.

Eugênio se supera!

Os sacrifícios valeram a pena, pois Eugênio passou em todos os vestibulares que prestou. Finalmente ele podia escolher entre cursar medicina, odontologia, direito, relações internacionais, engenharia, jornalismo. Seu Maneco não podia estar mais orgulhoso do filho que, antes dos 40 anos, ficou famoso e saiu em tudo quanto foi noticiário de TV. Conceição da Jararaca em peso assistiu a transmissão do Jornal das Oito na praça da cidade. Quando o repórter perguntou a Geninho qual foi o segredo para ter se dado tão bem, ele respondeu:


“Depois de tantas noites e noites sem dormir, indo direto da balada para a aula, pagando colega para fazer os trabalhos, me humilhando para os professores me darem meio ponto para não repetir de ano mais uma vez, finalmente entendi que o segredo estava na redação. Daí foi só resumir tudo o que havia aprendido na escola e no cursinho. Vou ler um trecho aqui.”

Eugênio tirou um papel amassado do bolso e lê no tom irreverente que todo adolescente de 38 anos tem:


“Devemos ser contra toda forma de ódio. Temos que amar todas as pessoas, menos aquelas a quem odiamos. Porém, como só vamos odiar gente do mal, seria um ódio do bem e, nesse caso, pode. Devemos valorizar a vida de todos, menos as vidas que não importam. Devemos cultuar Mao Tsé-Tung, pois, embora ele tenha provocado a morte de 80 milhões de pessoas, todas elas estavam na lista das vidas que não importam. Viva Mao por todo bem que fez à humanidade! O mesmo se aplica a Che Guevara, que apesar de ter sido um dos líderes mais homofóbicos da história, deve estar estampado nas camisetas de toda comunidade LBGTPQRS+, afinal, ele só perseguiu os gays da época dele, os de agora ele não tem nada contra. Devemos ser totalmente contra o capitalismo e lutar para que os ricos dividam seus bilhões igualmente entre todos. Assim poderemos ir para a Disney, comprar iPhones novos e termos tudo o que eles têm. Não é inveja, claro! É apenas justiça social. Devemos escolher bem o que vamos dizer, ainda que a gente pense diferente. Isso se chama politicamente correto. E devemos colocar regras na vida dos outros, ainda que a gente não siga. Os inimigos dirão que é hipocrisia, mas do que eles sabem? Inimigo não é gente. E se não é gente pode ser xingado, cancelado e odiado. Esse é o mais puro exemplo de ódio do bem. Agora sei que estou preparado para a vida. ‘Gratchidaum’!”

Por fim, Eugênio declarou ao repórter que, depois de tanto sacrifício, decidiu tirar um ano sabático para pensar na vida e poder escolher bem a carreira que vai seguir. São tantas opções que a ansiedade está atacando novamente e ele vai precisar de mais terapia.

Enquanto isso, seus oito irmãos – que estão bem crescidinhos – já podem entrar no batente e ajudar a mandar mais dinheiro para o membro mais ilustre da família. Afinal de contas, ser socialista custa caro!

Esta crônica é uma ficção, mas poderia não ser...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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