Cate Blanchett: A Hora da Estrela
“Simplesmente genial”. Com o sentimento, Cate Blanchett.
Linda. Natural. Simples. Afinal, ela sabe: só se consegue a simplicidade depois de muito trabalho. A atriz australiana de 55 anos arrebatou corações clariceanos no 72 Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha. Na coletiva de imprensa, jornalistas viram uma Cate extasiada: “Tenho lido recentemente uma incrível escritora brasileira, que diz que só se consegue a simplicidade com muito esforço”. Cate citou trecho do livro A Hora da Estrela, o último escrito por Clarice e o primeiro para tantos leitores. A frase é uma das primeiras do livro. Simples e profunda, pegou Cate de jeito. Essas duas palavras: simplicidade e trabalho, que não parecem poder caminhar juntas, com Clarice, ganham força, formam dupla. Feiticeira das palavras, tinha incrível capacidade de misturar sentimentos opostos e nos obrigar a refletir. Como é possível ter tanto trabalho para poder ser simples? Cate sabe bem. No filme “Manifesto” interpretou 13 personagens, entre eles o cantor Bob Dylan.
A atriz ganhadora de Oscar já foi rainha, homem, agente da Cia, mulher sofrida, lésbica, maestrina, sempre de olhar de gelo, dilacerante e de traços marcantes. Na Espanha, Cate recebeu prêmio Donostia pelo conjunto da obra e divulgou Clarice para o mundo.
A vida imita a arte. A arte imita a vida. Cate imita Clarice. Dessa vez, Cate é Clarice não nos palcos, mas na vida. No discurso de agradecimento do Festival, trouxe um papel escrito à mão, com a própria letra. Ali, rascunhou trechos da crônica: “Diálogo do Desconhecido”. Visivelmente emocionada, citou Clarice novamente.
“Vivemos tempos muito incertos”. E então, pra ter coragem, ela revelou: recorreu à Clarice:
“Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e - por ser um campo virgem - está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é a minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo.”
Aplaudida de pé, com papelzinho e Clarice na mão, Cate se agigantou.
Foi A Hora da Estrela.
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