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Se eu fosse eu

Fernanda Clariceana, Ainda Estamos Aqui

“Polícia na porta dos teatros...”

Se eu fosse eu|Renata ChiarantanoOpens in new window

Fernanda aceitou o desafio de ler on-line uma carta que a mãe, a atriz Fernanda Montenegro, escreveu para a escritora Clarice Lispector. O ano era 1968. O Brasil enfrentava o auge da ditadura militar. “Polícia nas portas dos teatros. Telefonemas ameaçam o terror para cada um de nós em nossas casas de gente de teatro.

E o nosso mundo, Clarice? Nossa geração falhou. Numa melancolia de canção sem palavra.... Tão comum no século XIX. O amor no século XX é a justiça social... Nossa geração sofre de frustração do repouso. É isso, Clarice? A luta que fizemos não fizemos para nós. E temos uma pena enorme de nós por isso.”

Fernanda Torres, atriz que de monocórdica só o branco dos olhos, criada nas coxias de teatros, reverberou e se emocionou com as palavras da mãe corajosa e destemida. Desabafo a uma escritora também no auge, embora nenhuma delas soubesse disso na época. A violência, a insegurança e o medo não deixavam.

Quase dois anos depois de ler a carta para o Brazil LAB da Universidade de Princenton, Fernanda se dedicou ao filme que mudaria a vida dela. A atriz refutou todos os outros convites, inclusive de reviver Odete Roitman, no horário nobre, para se dedicar à película que trouxe novamente o orgulho ao Brasil. Sim, porque o país dos vira-latas sofre de muitas síndromes, e talvez a maior delas, seja a da carência. Somos carentes de ídolos que nos façam sentir orgulho de nossa bandeira. Dos que levantam o mastro sem ufanismo exacerbado (com perdão, o pleonasmo). Dos que ganham e levam uma nação sofrida junto ao pódio, ao palco, ao ouro. Ao Globo de Ouro.


Fernanda, tão Clariceana, inverteu a Ordem e o Progresso. Tão Eunice Paiva, exigiu a Ordem e o Progresso. Tão Nanda, une os dois. Une as duas. O Brasil foi um só com ela.

Fernanda e Clarice, mulheres com mais de 50, no auge da maturidade, estampando em verde e amarelo, o que a gente tem de melhor: a ousadia e empatia. Clarice, vá lá, não era das mais empáticas, mas quem a conheceu diz que sim. Engraçada, ativa, inteligente e perseverante. Brasileira com sotaque pseudo-russo.

Nanda, Ainda Estamos Aqui. Estaremos sempre, não é, Clarice? Sabemos eternizar nossos brasileiros. Nossa geração não falhou. Ainda Estamos Aqui.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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