Adiar ou cancelar? O que deve acontecer com o carnaval em 2021
Capitais que organizam as maiores festas do país já trabalham com opções alternativas e uma certeza: folia não acontece em fevereiro
Ziriguidum|Thiago Calil, do R7
Uma coisa já é certa: o carnaval de 2021 não vai acontecer. Pelo menos não como a gente está acostumado nem nas datas previstas no calendário pré-pandemia (entre 12 e 16 de fevereiro).
Embora ninguém crave isso publicamente, já é consenso entre gestores de saúde e turismo das capitais que organizam as principais festas do país que, mesmo existindo uma vacina para o novo coronavírus até lá, não haverá tempo suficiente de imunizar a população de maneira segura antes dos dias de folia. A questão agora é o que fazer. Cancela a festa, que é uma das marcas do Brasil no mundo, ou deixa para depois?
Leia também
O primeiro ponto é indiscutível: carnaval é a festa da aglomeração. Enquanto o futebol sem arquibancada reúne 25 pessoas em campo, as escolas de samba são formadas por milhares na avenida. Ou seja, mesmo de portão fechado, é muita gente reunida. Bloco de rua, então... nem fantasiado de bolha daria para manter um longe do outro atrás do trio.
Então cancela e festa e vida que segue, certo? Errado. O carnaval está muito ligado à identidade do brasileiro. Ou seja, não existe retomada, novo normal ou algo do tipo se não tiver a festa. Após um ano de sacrifícios, perdas e lutos, muitas dificuldades econômicas e psicológicas, pintar a cara e ir para a rua não será só folia. Mas algo fundamental para a população se reerguer após a pandemia de covid-19.
Por que falar disso agora?
Com mais de 75 mil vidas perdidas para o coronavírus até esta quarta-feira (15), deve ter gente achando inapropriado falar disso neste momento. Acontece que há muita coisa em jogo e, por mais que muitos não vejam desta forma, existe um setor que se movimenta o ano inteiro em função do carnaval.
Falando especificamente das escolas de samba, elas já estariam, nessa época, com as quadras cheias nas disputas pelo hino do próximo ano, os barracões preparados para, em 15 dias, começar os trabalhos de confecção de fantasias e alegorias.
Há muitos profissionais parados: seja os que oferecem mão de obra para o carnaval como aqueles que fazem dele o seu sustento. Estamos falando do vendedor de bebidas e comidas durante ensaios, time de eventos e fornecedores de materias-primas. Sem contar o quanto que o feriado movimenta financeiramente. Só em São Paulo, foram cerca de R$ 3 bilhões, segundo dados de 2020 da prefeitura.
O maior de todos os tempos
O carnaval de 1919 é considerado o maior de todos os tempos. E ele aconteceu justamente após a pandemia da gripe espanhola. A doença, estima-se, fez entre 20 mil e 35 mil vítimas no Brasil, sendo o Rio de Janeiro, então capital federal, a cidade mais afetada. Era dezembro de 1918 quando foi observado o fim do contágio, apenas dois meses antes da festa.
Segundo o jornalista e escritor Ruy Castro, havia uma angústia acumulada na sociedade. As pessoas não sabiam se sobreviveriam à pandemia. E o carnaval era a celebração de que os piores dias haviam passado. Foi "a grande desforra contra a peste que dizimara a cidade”, definiu Castro.
A pandemia foi tema das músicas e dos blocos que tomaram as ruas. Foi com o humor e a sátira da folia que a população se reergueu após o trauma.
O que deve acontecer em 2021?
As possibilidades são muitas e dependem de um acordo com patrocinadores, governantes e demais organizadores. A ideia que tem agradado mais no momento é a defendida pelas cidades de Salvador (BA) e São Paulo (SP): um carnaval fora de época no meio do ano. Não seriam tantos blocos como normalmente nem desfiles tão grandiosos como estamos acostumados. Mas os efeitos no psicológico da população seriam incalculáveis.
Se a ideia se confirmar, algo curioso irá acontecer no ano que vem. As escolas de samba terão que começar a trabalhar para 2022 antes mesmo de entrar na avenida.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.