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Patricia Lages

Se a riqueza mundial fosse dividida igualmente, pobres voltariam a ser pobres

Comportamento financeiro de pessoas de menor renda mostra que apenas receber grandes somas não as torna ricas

Patricia Lages|Patricia LagesOpens in new window

Dinheiro é a solução? EDU GARCIA/R7 - 04.09.2023

Segundo um levantamento feito pela Credit Suisse, a riqueza mundial totalizou US$ 463,6 trilhões em 2021, o equivalente hoje a R$ 2,5 quatrilhões. Ao dividir esse montante igualmente entre os 8,2 bilhões de seres humanos, cada um receberia cerca de US$ 56,5 mil, equivalentes a aproximadamente R$ 307 mil reais.

Aparentemente, esta seria uma medida “justa”, pois, de certo modo, colocaria todas as pessoas em pé de igualdade. Porém, com base no comportamento financeiro da maioria e na falta de conhecimento sobre como lidar com o próprio dinheiro, é possível afirmar que os mais pobres voltariam a ficar pobres, enquanto os ricos voltariam a ser ricos. Vejamos os porquês.

Antes de qualquer coisa, pessoas mais pobres tendem a ver o dinheiro como um fim, um fruto, enquanto os mais ricos o veem como um meio, uma semente. Na prática, os mais pobres usam todo seu dinheiro para consumir, ou seja, comem todos os frutos que recebem de terceiros, ficando na dependência de que esses terceiros continuem a lhe fornecer frutos. Já os mais ricos separam parte de sua renda (recebida de terceiros) para fazer mais dinheiro, ou seja, para plantar e poder colher mais frutos futuramente (vindos de sua própria colheita). Mas não se engane: isso não acontece porque a renda dos mais pobres é menor e, portanto, não há margem para separar sementes para o plantio. Vamos a alguns exemplos.

De acordo com um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, a CNDL, em 2022, 35,7% dos brasileiros disseram que usariam seu 13º salário para as compras de Natal; 21,1% para comprar produtos que têm vontade, 16,6% para pagar dívidas em atraso, 15,3% para compras do dia a dia, incluindo mantimentos e 9,2% para viajar. Poupar não está na lista da maioria.


Segundo o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS), de 2021 para 2022, o pagamento de ações trabalhistas subiu 43% e superou os R$ 4 bilhões. E, de 2022 para 2023, cresceu mais 20%, ultrapassando os R$ 5,2 bilhões. Porém, a faixa da pobreza no mesmo período (pessoas que vivem com até US$ 6,85 por dia, equivalentes a R$ 37), embora tenha diminuído, não caiu de forma proporcional, passando de 36,7% para 31,6%.

Além disso, beneficiários de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, torraram R$ 3 bilhões em sites de apostas apenas em agosto de 2024, segundo o Banco Central. Se o objetivo do programa é distribuir dinheiro para tirar as pessoas da pobreza, é preciso dizer que, para muitos, não está funcionando. Ao contrário, o dinheiro de todos (pois tudo sai do bolso do contribuinte), no fundo, está beneficiando os donos das “bets” e fomentando mais um vício que só empobrece.


Programas como esse deveriam focar em levar as pessoas a não dependerem do benefício, dando-lhes um prazo determinado (depois do qual o auxílio seria descontinuado) e exigindo uma contrapartida. Mas o uso livre do dinheiro público por tempo indeterminado (bastando continuar pobre para seguir recebendo) torna as pessoas ainda mais dependentes e mais perdulárias.

Esses são apenas alguns exemplos de que a pobreza não está no bolso, mas na mentalidade das pessoas, e que dar dinheiro a quem não sabe usá-lo só aumenta o problema. Infelizmente, o Brasil tenta há séculos seguir o caminho mais fácil, mas que, no final das contas, só torna tudo ainda mais difícil.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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