Uvas híbridas ganham força diante da crise climática no setor de vinhos
Mesmo mais resistentes e baratas, ainda enfrentam resistência cultural, críticas sobre o sabor e preconceito histórico no mercado

Que a mudança climática é uma realidade, isso não se questiona mais. E que esta mudança climática interfere na agricultura e neste caso, no cultivo de uvas para fazer vinhos, também é algo que não gera dúvidas.
Porém, um recente estudo da Nature Reviews Earth and Environment joga uma luz especial nas uvas híbridas que 70% das regiões de vinícolas tradicionais podem desaparecer se as temperaturas médias globais continuarem subindo.
Mas vamos começar explicando o que é uma uva híbrida.
As uvas híbridas são criadas a partir do cruzamento genético de diferentes espécies de videiras (Vitis), combinando características da Vitis vinifera (responsável pela qualidade do vinho) com características de outras espécies, como Vitis labrusca, Vitis rupestris e Vitis riparia.
Essas outras espécies de uvas geralmente são nativas da América do Norte e de outras regiões, conhecidas por sua resistência a condições climáticas extremas, incluindo congelamentos de até -40°C, doenças e pestes, além de necessitarem de menos pesticidas e insumos químicos, tornando-as mais sustentáveis e econômicas para cultivar.
Em comparação com as Vitis vinífera, as híbridas oferecem maior produtividade e resistência com custos de cultivo menores, sendo as Vitis vinífera entre US$ 2.000-3.000 por tonelada e as híbridas em média US$ 800-1.000 por tonelada.
Porém, nem tudo são flores, ou uvas… rsrs. Há vários desafios na utilização de uvas híbridas. Um dos principais é o Estigma Histórico e Cultural, pois após a epidemia de filoxera no século XIX, países como a França baniram o uso de híbridas, prejudicando sua reputação. Outro desafio é o sabor delas, pois algumas híbridas contêm compostos químicos como o metil antranilato, responsável por aromas descritos como “grapey” (muito doce ou similares a bebidas como refrigerantes e doces artificiais). E por último e um dos mais esperados, as críticas dos Tradicionalistas e especialistas que acreditam que elas nunca terão a sofisticação de rótulos tradicionais feitos de Cabernet Sauvignon, Pinot Noir ou outras. E eles podem sim ter sua razão.
Vendo todo esse cenário, o que tem sido feito para que sejam testadas ou avaliadas estas uvas?
Alguns enólogos têm trabalhado para melhorar técnicas de cultivo e fermentação, reduzindo o impacto negativo no sabor. Alguns fermentam híbridos brancos com casca (estilo vinho laranja) e híbridos tintos fora das cascas para sabores mais frescos. Outros testes tem sido feitos no sentido de valorizar os blends, para ajudar a equilibrar características químicas indesejadas.
Os resultados ainda são precoces, já existem alguns vinhos premiados em alguns concursos mundo afora e regiões tradicionais como Champagne e Bordeaux, que antes rejeitavam híbridas, agora as aceitam devido ao impacto positivo no combate às mudanças climática, mas ainda há muito a ser feito. Precisamos de muito estudo, testes e cabeça aberta!
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