Vinhos produzidos com inteligência artificial ganham destaque no cenário global
Produtos criados sob orientação de um bot especializado foram apresentados em feira do setor — e aprovados
A Europa Oriental, historicamente reconhecida como o berço da vinicultura, abrange países como Geórgia, Moldávia, Grécia, Bulgária e Romênia, todos com tradições milenares na produção de vinhos. Agora, essa região volta a chamar a atenção por liderar uma nova era no setor: a produção de vinhos utilizando Inteligência Artificial (IA). Um dos primeiros vinhos desenvolvidos com essa tecnologia foi apresentado, causando grande repercussão no mercado.
Na Prowein, a mais importante feira de vinhos do mundo, este ano, cerca de mil profissionais do vinho do mundo todo tiveram sua primeira experiência com um vinho tinto e um branco feitos sob a orientação de um bot de inteligência artificial chamado Chelaris. O bot envolve uma parceria entre vinicultores moldavos, especialistas em tecnologia e marketing, e foi apresentado no estande da Wine of Moldova, em março deste ano.
A recepção foi positiva. Muitos ficaram impressionados com a qualidade dos vinhos, que também contaram com rótulos criados pela IA. Esse projeto inovador foi realizado em parceria com o National Office of Vine and Wine (ONVV), que utilizou algoritmos sofisticados para dar suporte a decisões humanas, ao planejar e executar todos os aspectos do processo de produção: colheita, vinificação, blend, rotulagem e comunicação. Com isso, está oficialmente decretado o início de uma nova era, com a sinergia de intuição humana e precisão habilitada por IA.
Enquanto isso, no Brasil...
A inovação não ficou restrita à Europa. No Brasil, a vinícola Casa Tertúlia, localizada no Rio Grande do Sul, produziu seu primeiro vinho com auxílio de IA, o primeiro do país nesse formato. O rótulo, denominado “IA”, é um blend das uvas Marselan, Cabernet Sauvignon, Merlot e Teroldego, todas de diferentes safras da vinícola. No entanto, a proporção exata de cada variedade permanece um segredo bem guardado.
A família Hilgert, proprietária da vinícola, resolveu inovar e juntou um administrador, uma enóloga, uma sommelier e um engenheiro, que aproveitaram o integrante mais novo da família para começar a desenvolver um algoritmo que pudesse avaliar os vinhos como um profissional.
O engenheiro, em especial, desenvolveu um algoritmo capaz de avaliar vinhos como um verdadeiro especialista, e para isso contou com duas ferramentas. As redes neurais, que são programas de computador que ensinam máquinas a tomar decisões de forma semelhante ao cérebro humano e a machine learning, que inclui outras abordagens para treinar as máquinas. A partir daí, foram inseridas milhares de informações de diferentes bancos de dados de avaliações de vinhos do mundo, considerando as características físico-químicas, como acidez, açúcares, graduação alcoólica, densidades, etc.
Após o desenvolvimento do algoritmo, a equipe fez o primeiro teste, que resultou no vinho IA. Cinco vinhos de diferentes safras da vinícola foram escolhidos para compor o blend. Dentre as 20 combinações possíveis, analisadas pela enóloga e pela sommelier, a receita nº 10, feita com quatro variedades de uva, foi a escolhida. Com uma assertividade de 97% quanto à sua qualidade, o primeiro lote do vinho IA, com 1,2 mil garrafas, está à venda no site da vinícola.
Sem dúvida, essa inovação representa um marco para a indústria vinícola. A expectativa é que veremos cada vez mais vinhos sendo produzidos dessa forma, também como uma estratégia de marketing, dada sua capacidade de gerar mídia espontânea. Se os vinhos manterão a qualidade e se o charme tradicional será preservado, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: estamos oficialmente em uma nova era.
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