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O nascimento do Amarone: o erro que deu origem a um vinho tinto poderoso

Tudo começou no coração do Vêneto, perto da charmosa Verona, em uma terra de vinhas e tradições milenares: Valpolicella

Contra Rótulo|Dado LancellottiOpens in new window

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O mestre de adega Lecchese nomeando o Amarone Imagem gerada pelo Gemini Nano Banana

Prepare-se para mergulhar em uma narrativa onde o acaso, a paciência e um erro “bendito” redefiniram o mapa dos grandes vinhos italianos. Se você pensa que o Amarone della Valpolicella – esse tinto potente, aveludado e de concentração arrebatadora – sempre existiu como o conhecemos, a biografia lhe reserva uma surpresa digna de cinema.

Tudo começou no coração do Vêneto, perto da charmosa Verona, em uma terra de vinhas e tradições milenares: Valpolicella, cujo nome, reza a lenda, já nos tempos romanos significava “vale de muitas adegas” (Vallis-pollis-cellae).


Por séculos, o néctar supremo da região era o Recioto, um vinho de sobremesa, feito a partir de uvas passificadas (o famoso appassimento), que concentrava açúcar e sabor, mas tinha sua fermentação interrompida precocemente para manter a doçura. O ancestral de ambos, aliás, remonta ao século 4, ao vinho romano chamado Acinatico, já feito com uvas parcialmente desidratadas.

A verdadeira virada, contudo, é muito mais recente.


A primeira garrafa de Amarone Imagem gerada pelo Gemini Nano Banana

🍷 O erro de mestre que criou um gigante

Diz a lenda que o Amarone é um vinho recente, descoberto em 1936, nos porões gélidos da Villa Novare (hoje Mosconi Bertani), sede da cooperativa Cantina Sociale di Negrar.

O mestre da adega, Adelino Lecchese, fez uma descoberta que gelou sua alma: um barril de Recioto que ele tinha esquecido em um canto. Ele temia que o vinho tivesse continuado a fermentar. O açúcar residual, que dava a doçura característica do Recioto, teria se transformado completamente em álcool, resultando em um vinho seco, amargo, intragável e arruinado.


Provou e para sua surpresa percebeu que o vinho havia ficado realmente seco, mas estava ótimo. A história ecoou...

Ma questo non è amaro, è amarone!” (traduzindo para o português: “Mas este não é amargo, é muito amargo/amargão!”)


Lecchese não estava reclamando. Ele estava nomeando um gigante. O vinho estava seco, forte (o teor alcoólico do Amarone é notavelmente alto, começando em 14% e frequentemente ultrapassando 16%), mas tinha uma profundidade, complexidade e secura inesperadas.

O “amargor” (amaro em italiano) era, na verdade, um potente equilíbrio de taninos, acidez e álcool, com aquela concentração inebriante do appassimento. O Amarone nasceu ali e assim surgiram em 1939 as suas primeiras garrafas.

🍷 As casas que forjaram o DNA de sucesso

Em toda sua trajetória, foram os produtores visionários, tanto tradicionais quanto inovadores, que consolidaram sua fama e que são considerados a realeza de Valpolicella, sinônimo de tradição, longevidade e excelência máxima:

Cantina Sociale di Negrar (Hoje Cantina Valpolicella Negrar): O palco do nascimento acidental. Uma das primeiras a engarrafar o estilo, foi fundada por 6 homens locais que se juntaram em uma cooperativa para defender o território de investimentos especulativos.

Bertani: Historicamente ligada à Villa Novare, foi uma das casas pioneiras, investindo na qualidade e em longos estágios de envelhecimento, ajudando a definir o perfil clássico do Amarone de guarda.

Giuseppe Quintarelli: O produtor que, a partir dos anos 50, se tornou um mito e o “Mago da Valpolicella”. Conhecido por seus métodos ultratradicionais, envelhecimentos longuíssimos e rótulos escritos à mão. Ele elevou o Amarone a um vinho de culto e de meditação.

Dal Forno Romano: O estilo mais moderno-opulento. Extremamente concentrado. Lenda!

Allegrini: Uma das grandes e mais influentes casas, com foco em alta qualidade.

Masi: Famosa e amplamente distribuída. O Costasera Amarone Classico é uma referência e tem estilo mais equilibrado.

Tommasi: Uma grande família produtora, conhecida pela consistência, também com estilo equilibrado e levemente moderno.

Tedeschi: Produtor de grande reputação que oferece um Amarone de excelente nível.

Zenato: Reconhecida por um estilo que equilibra a tradição e a modernidade. Adoro este!

Grandes rótulos de Amarone Imagem gerada pelo Gemini Nano Banana

🍷 O duelo de estilos: clássico vs. moderno

Para facilitar seu entendimento, é importante lembrar que o Amarone, em sua essência, é um vinho de potência e concentração graças ao Appassimento (a secagem das uvas).

Contudo, a filosofia do produtor na adega – especialmente o tipo e o tempo de envelhecimento em madeira – divide a produção atual em 2 grandes estilos: o Amarone Clássico, com sua passagem prolongada em madeira neutra, desenvolve complexidade e acidez que garantem uma longevidade extraordinária; já o Amarone Moderno busca um sabor mais imediato e potente, mais influenciado pelo carvalho novo.

🍷 Curiosidades: o segredo do Appassimento e os novos estilos

O DNA do Amarone é o Appassimento: a secagem das uvas (Corvina, Corvinone e Rondinella são as principais) em esteiras ou caixas de bambu, em galpões bem ventilados (fruttai), por 90 a 120 dias. A uva perde cerca de 30-40% de seu peso, concentrando açúcares, taninos e sabores.

  1. O “Appassimento Controlado”: Hoje, muitos produtores utilizam câmaras de secagem com temperatura e umidade controladas para mitigar os riscos de mofo, especialmente em anos mais úmidos, garantindo a consistência do sabor (uma prática mais “modernista”).
  2. O Repasso: O Amarone é tão especial que deu origem a outro vinho. A técnica do Ripasso envolve “repassar” o vinho Valpolicella base pelas borras (cascas e sedimentos) do Amarone recém-fermentado. Isso lhe confere mais corpo, cor e complexidade, sendo um estilo muito popular e mais acessível.
  3. Os Estilos Atuais: A produção contemporânea se divide:
    1. Estilo Tradicional: Longo appassimento, grandes barris de carvalho da Eslavônia (não novos), resultando em vinhos mais elegantes, com notas de tabaco, especiarias e excelente acidez. (Ex: Quintarelli, Bertani).
    2. Estilo Moderno: Appassimento mais curto e/ou controlado, uso de barricas novas (225L ou 500L), produzindo vinhos mais frutados, encorpados, com notas de chocolate e baunilha, pensados para um consumo um pouco mais jovem. (Ex: alguns produtores do Valpolicella Classico).
  4. Vinho de Meditação: Devido à sua intensidade, estrutura e alto teor alcoólico, o Amarone é frequentemente chamado de “vinho de meditação” – aquele que se aprecia lentamente, sozinho ou com pouquíssimos acompanhamentos (como queijos maturados, como o Parmigiano Reggiano, ou um charuto).

É isso! O Amarone é um dos vinhos que todo amante de vinhos deve provar. Corra atrás de um desses rótulos e descubra por que um “erro” esquecido se transformou em um tesouro italiano!

Salute🍷🍷!!!!

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