Estátua viva fica até quatro horas sem se mexer no centro de BH
Artista de rua relembra perrengues e histórias engraçadas que já presenciou durante o trabalho que garante o sustento da família dele
Andar pelo centro de BH é descobrir várias cidades em uma só. Ouso a dizer que se você tem um pouco mais de tempo, pode experimentar o clima de uma metrópole e traços interioranos no mesmo passeio. Há também discrepâncias sociais. Em poucos quarteirões, o pedestre sai de uma cidade moderna com enormes prédios espalhados para um espaço movimentado por brasileiros que saem às ruas em busca do mínimo para sobreviver.
No meio de tudo isso, entre um quarteirão e outro, a arte de rua se faz presente. E não estou falando só na tradicional e dominical Feira Hippie. Circulando por quarteirões importantes como o da Praça Sete e o do Mercado Central, você facilmente encontra, como exemplo, estátuas vivas.
“Isso existe ainda”, me indagou uma estagiária na redação quando eu comentei sobre essa pauta que estava na minha cabeça. A resposta foi sim. Elas existem e garantem o sustento de artistas de rua e suas famílias.
Um deles é Alexandre Marcondes, que prefere ser chamado de Zé do Mato. Eu encontrei com ele em um início de tarde em uma das entradas do Mercado Central, em plena terça-feira.
Ele ainda estava se maquiando, o que demora pouco mais de uma hora para uma caracterização bem feita. A fantasia de Zé do Mato é simples. Não tem um nome. Ele a define como uma espécie de esfinge. Resumidamente, trata-se de um roupão bege com capuz e argila no rosto. Zé usa várias camadas da argila intercalada com algodão. “Esse é o segredo para a argila não quebrar quando ela seca”, revela.
Zé do Mato encontrou na arte uma forma de fazer dinheiro, já que ele não se enquadrava nas opções de carteira assinada que havia tentado. Atendente de caixa, pedreiro e por aí vai. Quem ensinou o ofício foi um amigo.
Hoje, Zé se veste de estátua viva para completar a renda que ganha como cantor. Ele tem composições próprias e canta em feiras.
Todas as atividades são na rua, um lugar que, segundo ele, tem muitos desafios. As memórias são várias. Tanto positivas, quanto negativas.
Um dia antes da entrevista, por exemplo, uma andarilha chutou o cofre que Zé deixa no chão para recolher as notas e moedas que os transeuntes deixam de contribuição. Isso, sem falar do dia em que ele estava com muito sono e despencou do banquinho onde costuma ficar de pé para aumentar a altura da estátua.
Perguntando sobre o segredo da estátua perfeita, Zé não revela algo surpreendente. Mas é difícil de fazer: “ficar bem paradinho, sem piscar”, conta. O meu espanto veio com o tempo em que o homem de meia-idade consegue ficar assim: quatro horas seguidas.
Vou deixar um vídeo abaixo para você entender melhor o impacto do trabalho dele:
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