Pesquisa encontra resquício de pesticida em papinhas de bebê
Foram analisadas 50 amostras de alimentos industrializados para bebês vendidos em supermercados do estado de São Paulo. Pesquisa encontrou 21 agrotóxicos
É de comer|Camé Moraes @ehdecomer para o R7
O Brasil é o maior consumidor do mundo de agrotóxicos. Isso é um fato. Fato também é que parte da explicação para isso se dá por sermos uma potência exportadora de grãos e de produtos de origem animal (animais que consomem ração, que por sua vez vem de grãos, que por sua vez são cultivados com toneladas de agrotóxicos).
Em 2011, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida divulgou que cada brasileiro consumia cerca 5,2 litros de agrotóxico por ano. A conta foi a seguinte: a ONG dividiu o número de 1 bilhão de litros de pesticidas vendidos a cada ano pela população brasileira na época, de 192 milhões. O resultado não é necessariamente verdadeiro, já que muitos pesticidas são usados em produtos não comestíveis, como o algodão, por exemplo.
De qualquer forma, é inegável que temos um consumo expressivo de defensivos agrícolas, que, sim, fazem mal ao nosso organismo.
Na semana passada, surgiu um novo alerta: uma pesquisa conseguiu rastrear o veneno em papinhas de bebês, daquelas de potinhos coloridos que lotam as prateleiras dos mercados de todo o país.
O estudo financiado pela Fapesp, de autoria da pesquisadora Rafaela Prata, da Unicamp, foi divulgado na revista internacional Food Control. O artigo traz mais uma vez à luz a discussão da alimentação infantil industrializada. Afinal, dentro de uma suposta deliciosa papinha de batata e abóbora há bem mais que somente batata e abóbora.
A pesquisa mostra que uma substância proibida no Brasil desde 2012 — o metabólito sulfóxido de aldicarbe (o aldicarbe é popularmente conhecido como chumbinho) — foi encontrada em três sabores de papinhas: caldo de feijão, arroz e carne; legumes e carne; e abóbora, feijão preto e peito de frango. O teste não consegue determinar se a quantidade encontrada pode ou não causar algum dano aos bebês. O problema é que, como a substância é PROIBIDA no Brasil, ela não deveria ser encontrada em NENHUMA quantidade nessas papinhas.
Foram analisadas 50 amostras de alimentos para bebês vendidos nos supermercados do estado de São Paulo. A cipermetrina, que é um inseticida comumente usado nas lavouras de milho e soja, por exemplo, foi detectada em uma papinha à base de inhame e morango. A quantidade de 10,3 μg kg -1 estava ligeiramente acima do nível máximo de resíduo estabelecido pela União Européia, que é de 10 μg kg -1.
De acordo com o artigo publicado, "A detecção deste inseticida em uma das amostras analisadas em um nível acima do limite estabelecido indica a importância do monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos para bebês para garantir a segurança alimentar [...] Além disso, cerca de 68% das amostras apresentaram resíduos de agrotóxicos, mas em baixas concentrações".
Ainda segundo o estudo, evidências sugerem que os pesticidas atuam principalmente no sistema nervoso, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas. Doenças como câncer e disfunções nos sistemas endócrino e reprodutivo também estão associadas aos defensivos.
Saber minimamente a procedência do que estamos comprando ajuda a evitar a exposição ao veneno. É sempre melhor comprar e preparar produtos frescos. Melhor ainda se forem cultivados sem defensivos. Dizer que os orgânicos são mais caros que as tais papinhas industrializadas é uma falácia.
O potinho de 115 gramas da papinha mais consumida no país custa cerca de R$ 8,00 no supermercado. Com R$ 8,00 é possível comprar quase 1 quilo de ingredientes orgânicos para preparar a mesma receita dessa mesma papinha com um ingrediente a menos: o agrotóxico.
Qual é a sua desculpa? Tempo?
Me segue lá no meu blog, o @ehdecomer, para mais dicas de alimentação saudável e sustentável pra você, pra sua família e pro seu bebê.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.