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Abalada particular 

Até onde sei|Carmen Farão

Uma dose do doze anos a levou aos dez. Talvez o gelo com suco de manga e água de coco colidiram com o efeito devastador que uma dose pode causar à abstêmios, seu caso. Fato é que se sentiu bem. Solta, leve, livre para invadir espaços e interiores pessoais. É. De novo.

Escreveu alguns e-mails que fatalmente a levariam ao arrependimento no dia seguinte, mas escreveu com tanto ardor e sinceridade que talvez a felicidade de tê-lo feito superasse a vergonha da exposição.

Exposição é algo que tem pensado muito. A essa altura da vida, o mais interessante é se expor, nes't pas?

O que ela teria a perder se sinalizasse que quer viver o que manteve secreto durante toda uma vida? Nada. Má fama? A experiência lhe ensinou que mesmo agindo de acordo com todas as regras sociais, éticas e profissionais, ela vem do inimigo mais ou menos próximo. Basta que ele queira lhe atingir. Ela vem. Sem culpa, sem fatos, sem comprovação, é comprometida com a má palavra, com o alheio, com a força difamatória das palavras e a crença dos incrédulos nivelados pela média.


Uma dose. Apenas uma.

E a vontade de viver com os braços abertos e o vento na cara voltou. Drogas são perigosas. Álcool é perigoso, pensou ainda sobre o efeito do objeto em discussão. Ainda assim, solta, a razão controla.


Ligou o som, apagou as luzes e acendeu uma luminária dessas de festa. Coloria todo o teto, as paredes. Oh, yes.

Começou a dançar. Sem observadores, deixou o corpo se levar pelas batidas da noite. Estava sozinha, mas não se sentia só. Ria muito e estava feliz em dançar como queria. Abriu-se, fechou-se, deixou os braços e pernas seguirem as batidas, a cintura dura do dia-a-dia movimentada sensualmente para todos os lados.


E dançou, dançou... o copo, a pedra de gelo com água de coco. As luzes coloridas que havia comprado num chinês qualquer para o Natal. Estava feliz. Estaria completa com uma outra parte que não conhecia.

Passou a investigar o passado. Quem poderia estar ali com ela naquele momento? Algumas opções a excitaram, mas a razão não permitiu que os materializasse no ambiente. Fechou os olhos e pensou neles, no que poderia ter sido, no que não permitiu que fosse. E teve vontade de pagar para ver. Se não estivessem comprometidos, ligaria. Convidaria. Chamaria. Nem toda loucura do mundo permitira um ato desonesto, infiel e obscuro para quem quer que fosse. Continuou sorrindo, imaginando. Sua criação estava ali e talvez a realidade não fosse tão feliz. Dançou com todos. Queria beijá-los, abraçá-los, dizer como foram importantes em sua vida. Queria fazer amor com eles. E rir, rir muito, muito!

Estava livre. Poderia pensar o que quisesse, com quem quisesse. Pronta para amar, viver uma aventura. Pronta para ser encontrada nesse desencontro absurdo que é a vida moderna.

A música acabou, voltou no repeat, acabou, voltou, voltou, voltou. Era hora de tomar água, a razão dizia. Hora de diluir o lisergismo etílico. Hora de se preparar para a volta da filha, da vida, da noite, do dia seguinte.

E assim o fez.

E voltou para a vida que não escolheu construir, construída que estava. Era essa a vida. Voltou feliz, na esperança de que uma loucura pudesse acontecer e fazer valer toda existência até aquele momento.

Foi bom.

Infinito particular? Balada Particular. Momento feliz de reencontro.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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