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Alguém ao lado

Até onde sei|Eugenio Goussinsky

Surge um jovem de calça rasgada, olhar amarrotado

Perambula na rua, descamisado

Na calçada agacha e repousa sentado

Na mureta do prédio apoia o corpo cansado


Em plena manhã gente passa ao seu lado

Indiferente, irritada, está acostumado


Ele não liga nem se faz de rogado

O que importa se o bairro é de endinheirado?


A cracolândia tá longe, ônibus tava lotado

Barba por fazer sem banho tomado

Perdeu o sentido, vê o futuro manchado

Tristeza acende a dor do passado

Pai e mãe o largaram abandonado

Desligou-se do mundo, ficou meio pirado

Já vê que com a morte tem encontro marcado

Agora ou depois, caminho traçado

Só sobrou o bagulho que comprou fiado

É isso que o faz ficar concentrado

Atormentado, ensimesmado, descabelado, chapado, mamado

Obcecado, acha inútil o atarefado

Esqueceu que um dia foi apaixonado

Pela moça da esquina, um sonho encantado

Esqueceu-se de tudo, de que foi amado

O sonho deixou seu coração rasgado

Aprisionado, sufocado, chalado, azarado, fissurado

As pessoas, a vida, é tudo furado

Não espera mais nada, está isolado

Tira do bolso o papel amassado

Na mão o embrulho de erva fechado

Mostra perícia de alguém preparado

Nem percebe o dia ensolarado

O sol dentro dele está ofuscado

Ele enrola em silêncio o seu baseado

Dá um trago, um pigarro, peito congestionado

Entediado, explorado, desesperado, desmiolado esse descamisado

Do sorriso abafado

Do grito calado

De plano mutilado

Acabado, apagado, vagabundo condecorado

No tempo parado, já não sabe se é

Coitado ou culpado

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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