Como chegar à conclusão de que não fomos criados para amar
Até onde sei|Gabriel Kwak
Mirei-me no lago. Se eu não fosse um ingrato, o que eu enxergaria ali mesmo era o desenho do rosto dela. Mas não tive essa grandeza. De pensar que no ano passado até a respiração dela me excitava...
No dia seguinte, encontrei uma borboleta, ainda de asas coruscantes, alojada no miolo de um livro velho, de páginas quebradiças, temerárias como casca de cebola.
Pus fé que ela esboçasse reação e se lançasse à derradeira arremetida, pelo menos.
Espera inócua, o serzinho envelhecera e se extinguira naquela dobra, naquele desvão inóspito, desde a minha última perquirição àquele alfarrábio, na véspera do Natal de 1995.
Mal digerindo as esperanças perdidas, voltei a cozinhar furiosamente as alcachofras, que me esperavam na cozinha abafada.
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