Direita. Volver!  Esquerda

Eram estas as vozes de comando na ordem unida no Tiro de Guerra de Miracema (RJ) onde fiz o serviço militar no primeiro semestre de 1976. Geisel general-presidente e eu cabo reservista.

Depois na Escola de Comunicação da UFRJ direita e esquerda adquiriram novos significados. Na minha visão de mundo juvenil, marxista de orelhada, direita eram os militares ainda no poder e os reacionários (empresários nacionais e estrangeiros que os apoiavam e conservadores de todas idades e classes). Esquerda eramos nós do PCB, Partido Comunista Brasileiro, e os progressistas (empresários nacionalistas, grupos de esquerda nossos adversários e vanguardistas de todas idades e classes).

Agora, tempos de marchas verde-amarelas contra a corrupção do PT, a distinção entre direita e esquerda está ainda mais difusa. A esquerda defende redução das desigualdades e Estado atuante na economia. A direita propõe liberdade individual e de empreender com mercado autorregulador. Há quem diga que essa história de direita x esquerda ficou ultrapassada depois da queda do Muro de Berlim, símbolo da derrocada da União Soviética e do socialismo real. Em geral, quem diz isso está à direita talvez sem saber. Não vê que existem pessoas, grupos e partidos que se definem de direita, esquerda e variações. Na Grécia a esquerda radical acaba de assumir o poder e questiona o modelo de acumulação de riqueza via especulação financeira.

Ser de direita, esquerda ou ficar mais perto de um polo ou outro é direito de cada um. O problema são os extremos. Uma sociedade é mais democrática quando direita e esquerda dialogam. Divergências e conflitos são inerentes à vida social e a política é o melhor caminho para resolvê-los.

A manifestação do domingo 15 de março foi convocada por grupos de direita com apoio da mídia. Este fato não a desqualifica nem pode ser escamoteado. A corrupção é um mal endêmico que afeta os três poderes da vida pública, em todos os níveis, e a iniciativa privada também. É urgente combatê-la e identificá-la apenas com o PT e aliados é boa-fé iludida, má-fé cínica ou ambas.

Os tempos são outros e ouvi no 15 de março recente ecos do de meio século atrás. Uma das justificativas do golpe de 1964 - que faz 51 anos hoje - era combater a corrupção e esta foi a área em que o regime foi mais ineficaz. A operação Mãos limpas da Itália, inspiração do juiz Moro da Lava Jato, não impediu o advento de Berlusconi. Nesta hora de legítima exaltação, é urgente também ver com clareza. Do contrário, vira ordem unida. O que, fora do estrito contexto de exercício militar, é um perigo - pelo que evoca do contorno sombrio do Leviatã, de direita ou esquerda.