Sebastian Stan tem a melhor atuação da carreira no incômodo ‘Um Homem Diferente’
Com enredo parecido com ‘A Substância’, sucesso de 2024, filme estreia nesta quinta-feira (12) no cinema
Cine R7|Carol Malheiro*
Um Homem Diferente, que estreia nesta quinta-feira (12) nos cinemas, é mais uma produção do estúdio A24 que provoca e instiga o espectador a sair da sessão com inúmeras reflexões. Lembrando a temática de A Substância, lançado há pouco menos de três meses, o filme conta a história de Edward Lemuel, um aspirante a ator que encontra um obstáculo para tornar seu sonho possível: a sua aparência.
Com o rosto deformado, a fisionomia dele não é apenas um empecilho em sua carreira profissional, como também em todos os aspectos de sua vida, levando Edward a ser convencido a participar de um procedimento médico inovador.
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E é, a partir deste ponto, que Um Homem Diferente se distancia de A Substância. Com uma trama focada em explorar não só as mudanças físicas do protagonista, a história é um retrato de que nem as maiores mudanças são capazes de alterar a essência de uma pessoa.
A narrativa acompanha a opinião contrastante de Edward sobre si e sobre a visão que ele acredita que os demais personagens tem sobre ele.
Descrito como uma comédia dramática, o filme se aproxima de um suspense psicológico nos diversos momentos em que causa desconforto proposital em seus espectadores.
Se a intenção era provocar um incômodo inconsciente, o diretor Aaron Schimberg executa essa ideia com certa maestria. Desde o processo de transformação visual do protagonista até a sua relação com os demais personagens, sobretudo, aqueles que como ele apresentam deformações no rosto, são aspectos que podem incomodar a quem for assistir.
O desconforto é uma parte importante da história e está presente tanto nos diálogos curtos, nas frases carregadas de inconveniências, como nos constrangimentos vividos e provocados pelo próprio protagonista. A inquietação surpreende quem assiste, seja de maneira positiva ou negativa.
A mistura de sentimentos é uma mão dupla na interpretação, o que possibilita que pessoas na mesma sessão tenham gostos diferentes para a mesma história.
O filme também se aproveita de seus momentos satíricos para identificar os preconceitos de seus personagens, fazendo uma crítica visível a ignorância e incompreensão da sociedade com relação a pessoas que apresentem alguma deformidade facial.
E essa é a melhor atuação da carreira de Sebastian Stan (O Soldado Invernal da Marvel) no papel de Edward Leamen. O ator consegue convencer na interpretação da dualidade de seu personagem, conseguindo provocar risadas e tensões com o equilíbrio necessário.
Já a performance de Renate Reinsve, intérprete de Ingrid, é potencialmente positiva. No papel de vizinha e de interesse amoroso do protagonista, ela exibe uma atuação perspicaz e muito bem trabalhada.
Mas quem rouba a cena é Adam Pearson. O artista interpreta Oswald, um aspirante a ator que sofre com deformidades faciais, mas que, diferentemente do protagonista da história, aproveita-se de sua condição para atrair a comoção alheia e criar vínculos.
É um personagem carismático que irrita e comove na mesma medida. Oswald é responsável por manter uma comparação fundamental na história com Edward para podermos entender mais sobre esse personagem e sua história.
Em termos visuais, o longa lembra outras produções do estúdio A24. O procedimento médico inovador, bem como as salas de cirurgia remetem a Pobres Criaturas, os mesmos tons vibrantes. Enquanto o quarto escuro e mal-cuidado de Edward lembra o cômodo onde a história de A Baleia se passa, uma similaridade que pode ser explicada pelas condições precárias de saúde mental que os protagonistas de ambos os filmes estão inseridos.
Os cenários, os figurinos e a iluminação do filme se alteram junto da mudança física do protagonista, o que traz uma camada interessante a trama.
Contudo, o filme derrapa no final. Na expectativa de uma última parte que amarrasse todas as ideias construídas até então, frustra-se o espectador que assiste a uma passagem de tempo na trama.
Apesar de justificável, o longa pede por uma conclusão mais representativa. Isso não altera a experiência do filme como um todo, que consegue despertar uma mensagem importante e sustentar uma narrativa repleta de camadas.
*Sob supervisão de Lello Lopes
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.