‘Emilia Pérez’: além das polêmicas, filme é apenas um espetáculo musical vazio
Longa mais polêmico do ano estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6)
Nenhum filme foi tão (mal) falado nas últimas semanas quanto Emilia Pérez, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6). Além das polêmicas, o longa francês, com 13 indicações ao Oscar e grande rival de Ainda Estou Aqui na disputa pela estatueta de Melhor Filme Internacional, é um espetáculo musical vazio que desperdiça todo o seu potencial.
A história parte de uma premissa bem interessante: Manitas (Karla Sofía Gascón), o chefão de um cartel mexicano, decide passar em segredo por uma cirurgia de redesignação sexual para viver uma nova vida. Para isso, conta com a ajuda de uma advogada (Zoe Saldaña) desiludida com a profissão.
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Quatro anos após forjar a própria morte e realizar o procedimento, ele ressurge, agora como Emilia Pérez, na tentativa de se reaproximar dos filhos e da esposa, Jessi (Selena Gomez).
O que poderia render uma boa discussão sobre identidade, poder e família, entre outras coisas, tropeça em uma série de decisões equivocadas do diretor, o francês Jacques Audiard.
A maior delas: fazer de Emilia Pérez um musical exagerado. A carga dramática se perde em números histriônicos, como o de El Mal (canção indicada ao Oscar), bobos, como o de Mi Camino (também indicada ao Oscar), ou completamente equivocados, como o de La Vaginoplastia (basicamente uma esquete mal feita copiada de Monty Python).
Audiard, que também é um dos roteiristas do filme, enfia na história uma discussão sobre as pessoas desaparecidas pelo narcotráfico no México. Com isso, ele destrói o desenvolvimento do relacionamento entre Emilia e Jessi, que deveria ser o coração do filme, além de expor a sua protagonista a uma situação que a personagem definitivamente não procuraria.
A decisão só não é um total desastre porque é a responsável por um sublime momento musical, Para, de longe a melhor cena do longe.
Se fossem só esses problemas, já seria um exagero o surto coletivo em torno de Emilia Pérez nas premiações (além do caminhão de indicações ao Oscar e ao Bafta, o filme ganhou o Globo de Ouro e prêmios importantes no Festival de Cannes). Mas desde as primeiras exibições, o musical está envolvido em polêmicas.
A começar pelo fato de ser um filme francês sobre o México, sem atores locais nos papéis principais (Gascón é espanhola, enquanto Zoe Saldaña e Selena Gomez são norte-americanas) ou na produção.
Os mexicanos se sentiram desrespeitados com o que viram em tela, principalmente pelo estereótipo da violência e outras caricaturas no retrato do país. O sotaque das personagens e a utilização de palavras que não são ditas em conversas cotidianas no México também viraram motivos de ira.
O filme também recebeu críticas da comunidade trans por também usar um outro estereótipo, ligando a personagem principal a uma história de violência.
Apesar dos problemas, Emilia Pérez tinha passado incólume em sua campanha no circuito de premiações. As críticas se concentravam apenas nas redes sociais. Até Karla Sofía Gascón resolver atacar Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui.
Após a espanhola dizer que pessoas ligadas à brasileira estavam promovendo uma campanha de ódio contra ela e Emilia Pérez, tudo mudou. Postagens antigas e problemáticas de Gascón foram descobertas e dinamitaram as chances da atriz no Oscar.
E não só dela. Favorito até alguns dias atrás a levar o prêmio principal e mais algumas categorias, agora Emilia Pérez vê as chances diminuírem drasticamente. É provável que ele deixe a festa do dia 2 de março como o próprio filme: muito barulho, uma confusão enorme, um miolo vazio e uma excelente chance desperdiçada.
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