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Se eu fosse eu

Clarice Lispector está de volta aos palcos

As “escolhas” da escritora: quem são as atrizes que interpretam os textos dela e ajudam a eternizar as obras

Se eu fosse eu|Renata ChiarantanoOpens in new window

Beth Goulart interpreta Clarice Lispector Divulgação

Clarice nos deixou há 48 anos e espalhou sementes em mentes e corpos. Costumo dizer que Clarice escolhe os leitores e não o contrário. E nos últimos anos tem selecionado, a dedo, as fortalezas de alma para reverberar os textos, a voz gutural e a alegria difícil.

Beth Goulart, uma das escolhidas de Clarice, entendeu o recado e desde 2009 encara a plateia, ávida pela felicidade insuportável. Sucesso de público em todo país, a atriz prolongou a temporada do monólogo “Simplesmente eu, Clarice Lispector”.

Beth escreveu, idealizou, dirigiu... Até Claricear complemente. Disseca correspondências, entrevistas e, claro, os grandes livros da escritora. “Perto do Coração Selvagem”, “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres”, e os deliciosos contos “Amor” e “Perdoando Deus” nunca morrem.

Beth, essa grande atriz brasileira, gosta de desafios. “Clarice nos propõe o desafio de sermos nós mesmos na mais profunda e reveladora das experiências”, diz. Se Clarice a escolheu no meio de tantas, é preciso encarar. A cada tragada da personagem, Clarice aparece mais ucraniana e brasileira. Os figurinos, os trejeitos e até as pausas propositais imortalizam a maior escritora do país. A cada espetáculo, Beth comemora os 50 anos de carreira com a Joana, Lori, Ana... e com os que estão ali para refletir, silenciar, se emocionar... Uma dupla capaz de desnudar a alma, só pra poder vesti-la novamente depois. “Ser Clarice no palco é revelar um pouco de mim mesma, de minhas inquietações, angústias e descobertas, é vivenciar um estado de entrega e amor tão intensos que provoca uma imersão sútil de almas, numa fusão de dois universos num só”.


Beth Goulart Clariceou... Divulgação

O universo Clariceano, que à primeira vista parece tão distante e hermético, de perto é mais perceptível e raro: “Somos eu e Clarice num único ser, isso só é possível pela escolha que fizemos uma à outra, de confiança, de parceria e de união. Eu escolhi Clarice Lispector como minha autora predileta e ela me escolheu como seu instrumento vivo”, diz Beth. Disse Clarice. Simplesmente elas.

Maria Fernanda Cândido também entende dessa tal Felicidade Clandestina. A atriz, “embaixadora” de Clarice na Europa, encarou tão de frente a obra da escritora ucraniana, que agora viaja o mundo com Clarice na bagagem. Foi arrebatada por G.H. no cinema.


A película de Luiz Fernando Carvalho emudeceu os cinéfilos falantes. A beleza russa de Maria Fernanda e a desorganização profunda da personagem trouxeram o golpe de graça. Mas Clarice quis mais pra ela. Maria Fernanda mergulhou no caos. Se não há coragem, que não se entre, sussurrou Clarice.

Maria Fernanda Cândido arrebatada por G.H. Divulgação

A atriz, então, Clariceou. Clareou os palcos franceses em Montmartre com “A Balada Acima do Abismo”, peça baseada nos textos de C.L. Entre eles, “É para lá que eu vou”. “Onde expira um pensamento está uma ideia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia — é para lá que eu vou.” A peça veio pra São Paulo. Clariceou de novo. Esgotou.


Ester Jablonski em "Silêncios Claros", peça baseada em textos de Clarice Lispector Divulgação

Médica e Clariceana. Ester Jablonski sabe que C.L. é um caminho sem volta. Caminho que ela nem mensura quando começou porque faz tempo. Cirúrgica na escolha dos textos, Ester germina as sementes de Clarice por onde passa. Em “Silêncios Claros”, a atriz de 68 anos, não cansa de Claricear. Na nova temporada, trouxe a galinha de C.L. para os palcos... Em “Uma Fuga”, aprendeu com a escritora que cada vez que decidiu ir embora da coxia, Ester renascia.

Ana Beatriz Nogueira brilha como Margarida Flores em "Um Dia a Menos" Divulgação

Ana Beatriz Nogueira está prestes a estrear uma nova peça baseada nos textos da mentora. Também está “À procura de uma dignidade”, título do espetáculo. O texto famoso de C.L. clariceou a mente da atriz de um jeito, que só encenando pra explicar. Clarice deu a dica pra Ana de como começar: ela quis explicar que sua vida era assim mesmo... Ana Beatriz é leitora fiel. Que valoriza as vírgulas, os pontos e vírgulas e as reticências de C.L. Em “Um dia a menos”, sentou na cadeira e não viu mais ninguém, além de Margarida Flores, a personagem com cara de lado e de esquina. Clariceou tanto, mais tanto, que nem sabe mais se naquele palco era Margarida ou C.L. ou seria ela mesma?

Atriz estreia peça baseada no texto "À procura de uma dignidade", de Clarice Lispector Divulgação

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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