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Se eu fosse eu
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Somos tão jovens… com Clarice

O barulho na sala de aula era de uma mosca que voa tranquilamente. De costas às sensações clariceanas. Hormônios desabrocham. Descobrem uma mulher, não a escritora.

Se eu fosse eu|Do R7


Trechos da entrevista de Clarice Lispector ao programa Panorama da Tv Cultura, em 1977. As entrevistas também estão reproduzidas no @seeufosseeu, acessa lá!

Todos os dias quando acordo. Tenho Clarice, mas não tenho mais o tempo que passou.

Mas eles têm todo tempo do mundo.

E medos. Então deixe as luzes acesas pra Clarice entrar. Ah! Essa juventude pulsante! Que a escritora tanto admirava. Recentemente, em bate papo com alunos do ensino médio, em manhãs não tão cinzas, a ansiedade era da cor dos olhos deles. Castanhos. Verdes. Azuis.

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Não piscavam muito. O barulho na sala de aula era de uma mosca que voa tranquilamente. De costas às sensações clariceanas. Hormônios desabrocham. Descobrem uma mulher, não a escritora.

Descobrindo o mundo. Invadindo esse mundo tão particular de Clarice. Gerundiando na vida tumultuada e transcendental da escritora que perdeu a mãe ainda criança, que quase morreu queimada ao dormir com cigarro aceso e conquistou os mais exigentes leitores: os jovens. Olhos castanhos, verdes e azuis e brilhantes quando o assunto é Ela.

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Clarice invadiu a alma de uma geração e nela ficou. Uma estudante tentou decifrar Clarice no caderno através do desenho, enquanto ouvia a palestra. O lápis como aliado para tentar entender quem Ela era.

Traços russos marcantes impossíveis de esquecer. De esconder. O que foi escondido, é mesmo o que se escondeu. E o que foi prometido, Clarice prometeu. Prometeu deixar marcada para sempre essa vontade de se autoconhecer.

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- Por que ela fascina tanto? Por que domina a gente a ponto de provocar êxtase e entusiasmo?

A aluna quer saber. Eu também quero, Clarice. Não tempos tempo a perder.

Perguntada por que é considerada uma escritora hermética, de difícil compreensão, Clarice revelou um mundo particular em que só entram ela e os sensíveis. Os jovens sensíveis. Sem pudor, disse:

“Meu livro: A Paixão Segundo GH, um professor de português do Pedro II, veio lá em casa e disse que leu quatro vezes o livro e não sabe do que se trata. No dia seguinte, uma jovem universitária de 17 anos, disse que esse livro é o livro de cabeceira dela.”

A Paixão Segundo GH é um dos livros mais cultuados da escritora. Virou peça de teatro e filme. Virou muita gente de cabeça pra baixo. Kafkaneana, Clarice traz a barata para o mundo dos humanos. E ali, frente a frente com o inseto, a personagem voa e se debate nas descobertas. Sem spoiler porque tenho certeza: depois dessa, você vai ler. Se já leu, então releia. A própria Clarice dizia que “ganhava muito na releitura”.

A mosca já foi embora da sala. Mas eles, os estudantes, ainda estão ali. Estamos juntos nessa tentativa de decifrá-la.

Misteriosa, enigmática, silenciosamente exagerada, provocativa. Os cérebros frescos imploram por vida, mais do que conhecimento. Foi uma criança curiosa. Imaginativa. Ganhou prêmio com o livro infantil “Mistério do Coelho Pensante”, em 1967.

- Ficou contente, Clarice?

- Fiquei contente, é claro. Mas muito mais contente ainda ao me ocorrer que me chamam de escritora hermética. Como é? Quando escrevo para crianças, sou compreendida, mas quando escrevo para adultos fico difícil? Deveria eu escrever para os adultos com as palavras e os sentimentos adequados a uma criança? Não posso falar de igual pra igual?

- Claro que pode, Clarice. O mundo é seu. Você descobriu o mundo.

- Suponho que me entender não é questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato.

- Verdade, Clarice. Estou tocada.

- É. Ou toca ou não toca.

Não temos tempo a perder, mas temos todo tempo do mundo pra te decifrar, Clarice.

Por que você gosta tanto de Clarice? Pergunta a estudante.
Por que você gosta tanto de Clarice? Pergunta a estudante.
Estudante do ensino médio decifra Clarice através do desenho, enquanto ouve a palestra sobre a escritora.
Estudante do ensino médio decifra Clarice através do desenho, enquanto ouve a palestra sobre a escritora.
Ou toca, ou não toca.
Ou toca, ou não toca.

Agradecemos os autores das caricaturas clariceanas maravilhosas!

Memes, declarações, citações, diversão e reflexão no Insta e no Facebook: @seeufosseeu

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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