Música e Video Game: GTA San Andreas

Video Games são populares entre crianças, adolescentes e adultos desde os anos 70. A sonorização dos jogos sempre foi tão importante quanto a jogabilidade, roteiro e design gráfico. O som do jogo dá o tempo certo para acertarmos a bolinha no Pong (ou quadrado, nesse caso), saber quanto tempo nos resta até os fantasmas voltarem a nos caçar como no PacMan e ajuda a navegar pelos diversos universos de Mario Bros. Não vou começar a falar sobre Zelda porque dá assunto para um artigo inteiro só sobre as composições geniais de todos os jogos da série.

GTA - Grand Theft Auto, é um dos jogos mais populares de todos os tempos, colecionando recordes de vendas. O tema sempre foi controverso e a violência extrema faz parte da mecânica da série. É basicamente um jogo de “polícia e ladrão” em que o jogador tem que fugir das viaturas dirigindo carros. Obviamente que era proibido para menores de 18 anos, por isso, com meus 10 anos de idade, só tinha ouvido falar do tal GTA. Desde o primeiro jogo de 1997, o conceito de liberdade de escolhas na trilha sonora é marca registrada. Você pode escolher a rádio que quer ouvir enquanto dirige pelas cidades, desde Jazz até Heavy Metal. Foi somente em 2001, na terceira produção que adotaram o visual mais realista em 3 dimensões, com GTA III. Nessa época, já tinha visto algumas vezes na casa de alguns amigos que tinham irmãos mais velhos, mas eu nunca tive o jogo. Depois veio o Vice City que se passa numa cidade que imita Miami e em 2004, finalmente, San Andreas.

Um amigo meu da escola tinha o Playstation 2 e o GTA San Andreas. Claro que todos os trabalhos em grupo da a escola eram feitos na casa dele, e estudar que é bom ninguém queria saber, era só GTA. Revezávamos quem jogava e também quem escolheria a rádio. As músicas eram todas boas. A temática principal do jogo era o Hip Hop dos anos 90, com clássicos do gênero como Public Enemy, Ice Cube, Snoop Dogg, 2Pac, Da Lench Mob, Compton’s Most Wanted, Cypress Hill.

K-DST era a rádio de Classic Rock, tocava Boston, America, Rod Stewart, Kiss, Heart, Lynyrd Skynyrd, The Who, tudo que eu ouvia na época. Tinha a Radio X também, que todo mundo sempre pedia pra colocar porque tinha Ozzy, Rage Against the Machine, Soundgarden, Faith No More, Guns N'Roses.

Mas o dono do Video Game, ouvia sempre a Master Sounds 98.3, uma rádio de Funk, Soul e R&B com James Brown, The Chakachas, Charles Wright, Bobby Byrd, Lyn Collins, ou seja, ele já escutava coisas que as pessoas da nossa idade não conheciam tanto.

Por esse motivo, apesar da temática discutível (mas extremamente divertida), o jogo teve um impacto positivo. Tive a sorte de que quando ele terminou o jogo, resolveu me emprestar, inclusive o console que eu também não tinha, e fiquei com GTA San Andreas em casa por mais de 2 meses. Eu não queria saber de completar missões, fazer o que era necessário para avançar no jogo, só queria saber de sair sem destino pela parte rural da cidade, montado numa motocross, ouvindo minha rádio preferida, K-Rose.

K-Rose era uma rádio que só tocava Classic Country Music. Foi ali que conheci Hank Williams, Merle Haggard, Conway Twitty, Loretta Lynn, Patsy Cline, Ed Bruce, The Desert Rose Band, Jerry Reed. Minha base musical da Country Music foi formada enquanto saltava pontes, pulava de prédios, voava em helicópteros e fugia da polícia, um verdadeiro “Country Outlaw” ou um “Cowboy Fora-da-Lei” virtual. A narração da locutora da rádio era hilária e também ajudou muito a melhorar meu inglês.

Lembro que quando devolvi o jogo, fiquei um tempo sentindo saudade dele. Tentava baixar aquelas músicas na internet, que na época demoravam horas, às vezes dias até completar o download. O impacto musical que esse jogo teve na minha vida foi muito importante. Hoje devo muito às horas e mais horas que passava esmagando botões do controle enquanto ouvia: “Um coração partido nunca soou tão bem. Música Country e Western transmitida de Bone County para todo o estado de San Andreas. Todos os maiores artistas, as melhores músicas. Com a Rainha, Viúva da Pradaria, Mary-Beth Maybell. K-Rose!”