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Clássicos: Toto e seu álbum de estréia

O álbum de estréia da banda formada por músicos de estúdio que resolveram apostar em seus próprios talentos, se tornou um dos mais bem sucedidos grupos de sua era

Toque Toque|LEO VON, do R7

Capa do disco TOTO criada por Philip Garris
Capa do disco TOTO criada por Philip Garris

Dentre os diversos discos que meu pai tinha, um deles me chamava a atenção pela capa. Era um cara estranho, usando uma jaqueta de couro, sem camisa, e segurando uma espada, obscuro por uma neblina. O nome era Toto - Hydra. Dei risada. O disco parecia ser algo de Heavy Metal mas se chamava “Totó”? Ouvi e não fiquei impressionado, afinal tinha apenas 12 anos de idade. Mas o baterista da minha banda, o Raphael (Badel), que hoje toca com Paulo Ricardo, Zeeba, Rastapé, disse que Toto era sua banda preferida depois dos Beatles. Desde criança ele já era um músico muito acima da média, então resolvi respeitar um pouco mais o “Totó”. Foi só mais pra frente, na adolescência, que ouvi Toto, o álbum, pela primeira vez.

Formada entre 1976 e 77 pelos músicos de estúdio David Paich (compositor e tecladista) e Jeff Porcaro (baterista e ídolo do Badel), que queriam uma chance de ter sua própria banda e fazer sucesso com seu próprio trabalho. Já se conheciam desde a época da escola em Los Angeles na Grant High School. Recrutaram os outros integrantes que conheciam de diversas sessões em estúdio: o baixista veterano David Hungate; o vocalista Bobby Kimball; o também colega de escola Steve Lukather na guitarra, e; o irmão de Jeff, Steve Porcaro também nos teclados.

Músicos de sessão, ou músicos de estúdio, são aqueles contratados para trabalhar na gravação de faixas de outros artistas e geralmente são o que a indústria tem de melhor para oferecer. Antes de formar o Toto, seus integrantes gravaram e compuseram para: Steely Dan, Seals and Crofts, Boz Scaggs, Sonny & Cher, entre muitos outros. Mesmo com tanto talento, na maioria das vezes não podem colocar 100% de sua verdade ou inclinação musical pelo direcionamento específico que cada trabalho exige, mas isso consequentemente acaba elevando muito a versatilidade e musicalidade.

TOTO


Essa versatilidade e musicalidade foi o que fez o Toto ser o que é. Depois de tanta experiência nos mais diversos estilos, uma quase perfeição técnica adquirida, conhecimento de mercado e acima de tudo, vontade de acontecer, o Toto grava seu álbum de estreia, Toto.

Os gêneros do álbum foram “rotulados” como Rock Progressivo, R&B, Jazz Rock, Hard Rock e Pop, mas na verdade o “rótulo” era apenas um, TOTO.


Esse é um daqueles discos que é para ser apreciado na íntegra. Suas faixas são todas únicas e poderiam facilmente ser trabalhadas como Single, mas é no contexto geral que elas se destacam ainda mais. Da instrumental “Child’s Anthem” abertura do disco, passando pelo hino pop “I’ll Supply the Love”, o swing delicioso de “Georgy Porgy”, “Manuela Run”, as nuances jazzísticas de “You Are the Flower” fazem do Lado A do álbum uma verdadeira declaração de quem o Toto é: “Música de extrema qualidade que você ouve no rádio”.

O Lado B dá mais ênfase ao Hard Rock sem perder a essência da sonoridade já tão bem definida em sua primeira metade. “Girl Goodbye”, “Takin’ it Back”, “Rockmaker”, o hit “Hold the Line” e “Angela” concluem essa viagem musical que é uma verdadeira aula para qualquer músico.


Após o lançamento em 15 de Outubro de 1978, a recepção foi, no mínimo, interessante. Enquanto a crítica não entendeu nada e detonou o disco, os singles "Hold the Line", "I'll Supply the Love" e "Georgy Porgy", chegaram, os três, no topo das paradas do Top 50 nos EUA e a banda foi nomeada para concorrer ao Grammy de "Best New Artist" (Melhor Artista Novo). "Hold the Line" ficou seis semanas no Top 10. 

A Crítica em Contradição

A Rolling Stone criticou exatamente essa versatilidade tão única da banda e disse que “essa tentativa de transição de músicos de estúdio para uma banda foi um fracasso” e que as composições eram “uma desculpa para ficar tocando solos de ponta à ponta”. Em compensação, a AllMusic disse que “o álbum recebeu uma reação crítica fortemente negativa apenas porque os críticos se sentiram ameaçados pela capacidade demonstrada de Toto em criar músicas excelentes em qualquer gênero”, o que era “uma contradição com os preceitos populares dos críticos sobre definições dos gêneros e a supremacia da inspiração acima da capacidade técnica de criação”. No álbum seguinte, "Hydra", a mesma Rolling Stone disse o segundo disco "não tinha a mesma magia do primeiro". Claro que a banda achou aquilo hilário e o comentário de Steve Lukather foi: "Quem são esses caras? Eles acham que nós temos amnésia? Nós estávamos apenas seguindo nossas próprias regras e não queríamos ouvir o que ninguém tinha a dizer".

Apesar da estreia tão bem-sucedida, o verdadeiro sucesso de Toto ainda estava por vir. O disco Toto IV colocou a banda no mapa global com hits como “Africa” e “Rosanna”, e seus integrantes participaram de projetos de Paul McCartney, Ringo Starr, Michael Jackson, Chicago, Alice Cooper, Pink Floyd, Eric Clapton, Quincy Jones, entre tantos outros, mas isso é assunto para outro artigo.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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