Releituras: Covers que não se parecem Covers
Algumas versões são tão únicas, que muitos artistas fizeram delas seu próprio sucesso e que nada lembram suas gravações originais
Toque Toque|LEO VON, do R7
Regravações, versões, releituras são fórmulas que muitos cantores, bandas e gravadoras usam desde sempre. É uma ótima forma de mostrar a identidade do artista em questão e ao mesmo tempo contar com a enorme vantagem daquela música já ser conhecida. “It’s all about the song” (“é tudo à respeito da canção”) é uma máxima usada pela indústria fonográfica desde seus primórdios. Repertório é tudo. Essa estratégia pode funcionar muito bem ou ser um grande tiro no pé. Algumas gravações originais são tão emblemáticas que fica quase impossível evitar comparações, o que pode ser muito prejudicial à nova versão. Mas em alguns casos elas são tão únicas que o “cover” acaba se tornando uma “música própria” de quem regravou.
Claro que se quisermos analisar todos os aspectos de execução musical, incluindo versões ao vivo, todas elas serão diferentes umas das outras. Assim como a interpretação de um maestro, de concertistas e solistas em composições eruditas de duzentos anos atrás, ou até mesmo das grandes vozes e instrumentos do jazz, também teremos resultados diferentes. Mas você sabia, por exemplo, que “Twist and Shout” não é originalmente dos Beatles?
Twist and Shout
Escrita por Phil Medley e Bert Russel em 1961, sua gravação original foi com o grupo Top Notes. Não aconteceu nada com a música. Depois os Isley Brothers regravaram em 1962 e ela foi um sucesso. Mas não maior do que a versão dos Beatles, que fizeram dela uma de suas marcas registradas com os vocais de Paul e George, gritos de John Lennon e instrumentação com sonoridade única, e isso contribuiu, e muito, para a definição do estilo da invasão britânica dos anos 60.
With a Little Help From My Friends
Seguindo sobre o Fab 4, confesso que particularmente não gosto de versões das músicas dos Beatles. Não sou um bom parâmetro porque para mim, nada é melhor do que os Beatles. Porém, a versão de Joe Cocker de “With a Little Help From my Friends” é outra música completamente diferente da original. A dinâmica, coral, e a brilhante interpretação de uma das maiores vozes da época fez dela uma verdadeira obra prima.
Hound Dog
A gravação mais conhecida de Hound Dog sem dúvida é a de Elvis Presley de 1956. Mas antes dele, Big Mama Thornton lançou a original composta pelos “rock’n roll hitmakers” Leiber e Stoller em 1952.
All Along the Watchtower
Jimi Hendrix tinha o dom de fazer qualquer coisa soar unicamente como Hendrix, até mesmo o hino nacional americano. Mas All Along the Watchtower do guitarrista transformou a original folk de Bob Dylan em outro hino, dessa vez no hino do Hard Rock.
Bette Davis Eyes
Jackie DeShannon lançou sua composição e de Donna Weiss em 1974. Mas foi só em 1981 que a canção ficou 9 semanas no topo da Billboard Hot 100 com a versão completamente diferente de Kim Carnes.
Me and Bobby McGee
A lenda da Country Music, Kris Kristofferson compôs para Roger Miller que lançou a gravação original. Janis Joplin fez a sua própria apenas alguns dias antes de sua morte em 1970 e lançada em seu disco póstumo “Pearl” em ‘71, e ficou em 1° lugar nas paradas americanas. Depois, muitos outros artistas regravaram, mas Janis fez dessa canção sua própria.
Oye Cómo Va
Originalmente escrita e gravada por Tito Puente, o "Rei do Mambo" (leia aqui) em 1962, foi regravada em 1971 por Santana em seu mais puro Latin Rock. Bateria e órgão em rock com aquele suingue latino percussivo e as geniais linhas de guitarra de Carlos Santana. Tito Puente disse ficou com muita raiva quando uma banda de rock regravou sua música, mas mudou de ideia assim que recebeu seu primeiro cheque dos royalties da versão de Santana.
Babe I’m Gonna Leave you
Composta por Anne Bredon no final da década de 50 e originalmente lançada por Joan Baez em 62, os gigantes do Led Zeppelin fizeram dela um divisor de águas com o peso do Blues e Hard Rock.
Tennessee Whiskey
Em 2015 Chris Stapleton regravou esse clássico da Country Music de 1981 e se estabeleceu no mainstream americano. A gravação original de David Allan Coe e depois George Jones em ‘83, são completamente diferentes da mais recente, que chegou à marca de 6x Platina.
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