Nessa última semana, a cantora, empresária, escritora e ícone da Country Music americana, Dolly Parton, foi destaque em diversos sites, jornais e colunas musicais sobre ter recusado sua indicação para integrar o Hall da Fama do Rock.
“Dolly aqui! Mesmo que esteja extremamente lisonjeada e grata por ser nomeada para o Hall da Fama do Rock & Roll, não sinto que conquistei esse direito. Eu realmente não quero que os votos (para outros artistas que também concorrem ao prêmio) sejam divididos por minha causa, então devo respeitosamente me retirar”.
Para ser nomeado e integrar o Rock’n Roll Hall of Fame, os nomes são primeiramente selecionados pela própria instituição, depois abre-se para o público votar na internet e os mais votados são laureados na cerimônia anual da fundação.
Mas por que uma cantora tão importante como Dolly Parton retirou-se dessa forma, se com certeza iria ganhar?
RRHOF
O “Rock and Roll Hall of Fame” foi fundado em 1983 pelo empresário Ahmet Ertegun que montou um time constituído por executivos de gravadora, advogados e pelo fundador da revista Rolling Stone, Jann S. Wenner. As introduções ao hall da fama começaram em 1986 com a primeira cerimônia em Nova Iorque no Waldorf Astoria, com presenças como Paul McCartney, Mick Jagger, a “superbanda” Steve Winwood, John Fogerty, Billy Joel, e ZZ Top, e as homenagens aos “pais do rock” como Chuck Berry, Elvis Presley, Little Richard, Fats Domino, Buddy Holly, the Everly Brothers, Ray Charles, James Brown, Sam Cooke e Jerry Lee Lewis. Foram laureadas figuras importantes que fizeram parte da criação do estilo como Sam Phillips dono da Sun Records (Elvis Presley, Carl Perkins, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis) e o disc jockey Alan Freed dito por muitos como quem definiu o termo “Rock’n Roll” associado ao estilo. Também, os grandes que influenciaram o gênero como o ícone do blues Robert Johnson, Jimmie Rogers do country, e o pianista de boogie-woogie Jimmy Yancey.
Em 1995 o Hall of Fame inaugurou seu museu em Cleveland, OH. O prédio tem 7 andares com exibições permanentes de seus membros (e às vezes até não-membros), cidades emblemáticas, rádios importantes, exibições especiais, além de um cinema/teatro que passa filmes sobre música e sobre o museu. Há também a biblioteca e arquivos, o repositório mais abrangente do mundo com materiais relacionados à história do rock.
O Hall of Fame havia sido criado para homenagear e reconhecer a importância de artistas, músicos e personalidades para a criação e fortalecimento do estilo que foi a principal forma da música popular na segunda metade do século XX. Uma forma de imortalizar a memória do Rock e reverenciar seus membros para que jamais caíssem no esquecimento.
O começo das controvérsias
Os anos foram se passando e a missão da fundação acabou se perdendo. Seu direcionamento foi para um lado mais comercial, fazendo com que artistas que não poderiam sair de nossas memórias fossem substituídos por nomes “mais conhecidos”, priorizados por venderem mais ingressos aos eventos. Sister Rosetta Tharpe, a “Madrinha do Rock’n Roll” por exemplo, só foi nomeada em 2017.
Além disso, artistas dos anos 50 e 60, que foram extremamente importantes para a base e formação do estilo foram deixados de lado, substituídos por artistas de outros gêneros musicais que passaram a ser nomeados e introduzidos ao hall da fama. The Dave Clark Five perdeu para o grupo de Hip-Hop Grandmaster Flash and the Furious Five por uma “falha técnica” na contagem de votos. O grupo de rock dos anos 60 teve seis votos a mais do que Grandmaster Flash, mas o representante da fundação disse que “não poderíamos passar mais um ano sem ter um grupo de rap”. O The Dave Clark Five foi introduzido no ano seguinte.
Sex Pistols se recusou a participar da cerimônia de sua própria homenagem alegando que o museu é uma “mancha de urina” e “urina no vinho”; Deep Purple levou 23 anos para entrar no RNRHOF; o Iron Maiden é elegível para concorrer desde 2004 e até hoje nada; Judas Priest concorre esse ano novamente sem ainda ter vencido e; a banda Kiss levou 15 anos para ganhar o prêmio. Gene Simmons baixista do Kiss disse que concordará com a entrada de um grupo de Hip-Hop ao hall da fama do Rock no dia em que o Jimi Hendrix ou Led Zeppelin entrarem para o hall da fama do Rap. Ice Cube, do NWA replicou dizendo que o “Rock não é um instrumento ou um estilo musical”, e sim uma ideologia de “não-conformidade com as pessoas que vieram antes de você e à partir disso criar seu próprio caminho na música e na vida”. Simmons treplicou: “Respeito o NWA, mas quando Led Zep entrar para o Rap Hall of Fame, vou concordar com seu ponto”.
Eu particularmente não sou fã de rótulos. Eles nos limitam a criar e, arte e cultura não devem se limitar. Porém, quando se cria um evento, fundação e museu, destinado à um estilo musical específico, definido e rotulado, não cabe à essa única instituição redefinir o que é o gênero. De certa forma, traíram sua própria missão inicial por não celebrar tantos artistas fadados ao esquecimento em prol da venda de ingressos se associando à grandes nomes independente do estilo. Para isso, que criem o “Popular Music Hall of Fame” ou “Twentieth Century Music Hall of Fame”, senão, já posso começar a protestar e questionar por que Beethoven ainda não foi nomeado, já que ele foi o compositor clássico mais “Rock’n Roll” de todos.
O caso "Dolly Parton"
Mas voltando à Dolly Parton, deixo que ela mesma explique seus motivos:
“Espero que o Hall da Fama do Rock & Roll entenda e esteja disposto a me considerar novamente - se eu for merecedora.
Isso, no entanto, me inspirou a lançar um álbum de rock’n roll em algum momento no futuro, algo que eu sempre quis fazer! Meu marido é totalmente fanático por rock’n roll e sempre me encorajou a fazer um. Desejo boa sorte a todos os indicados e obrigada novamente pelo elogio. Rock On!"
Que Dolly Parton continue a ser um exemplo para todos nós.