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No Rio de Janeiro, 'carnaval o ano inteiro' é coisa séria e sem graça

Com a terceira virada de mesa consecutiva, está cada vez mais difícil defender a folia carioca, que já caiu no descrédito quanto ao regulamento

Ziriguidum|Thiago Calil, do R7

São Clemente: deboche de virada de mesa na avenida, apoio fora dela
São Clemente: deboche de virada de mesa na avenida, apoio fora dela

Noite de segunda-feira, 4 de junho de 2019. Os dirigentes das escolas de samba dos grupos especiais dos dois maiores carnavais de avenida do Brasil se reúnem em suas respectivas Ligas.

Em São Paulo, vida que segue. O encontro rendeu a definição sobre quais agremiações desfilam em quais dias em 2020. Afinal, estamos em junho e o show não pode parar.

No Rio de Janeiro, vida que segue. A reunião acabou em virada de mesa, como já se tornou tradição na folia carioca. Afinal, o tempo pode parar, sim, por lá e a expressão “carnaval o ano inteiro” é levada ao pé da letra. Foi o terceiro tapetão consecutivo.

O ato defendido por oito agremiações cariocas cancelou o rebaixamento da Imperatriz Leopoldinense para o Grupo A – mas manteve o do Império Serrano. Como consequência, Jorge Castanheira deixou a presidência da Liesa, a liga que organiza o Carnaval do grupo Especial do Rio. “Tenho compromisso com o público e com os contratos que fizemos”, disse ao anunciar a saída.


Veja o momento do anúncio no vídeo feito pelos amigos do canal Mais Carnaval, do YouTube.

Havia um acordo da Liesa com o Ministério Público do Rio de Janeiro de manter o resultado sacramentado na quarta-feira de cinzas, incluindo a previsão de uma multa de R$ 750 mil em caso de descumprimento, como o que acontece agora.


Votaram pela virada de mesa as escolas Paraíso do Tuiuti, Estácio de Sá, Grande Rio, União da Ilha, Salgueiro, Mocidade, Unidos da Tijuca e São Clemente, essa última a mesma que fez, no Carnaval 2019, piada das quebras de regulamento de anos anteriores.

Foram contrárias à decisão: Beija-Flor, Viradouro, Vila Isabel, Mangueira e Portela.


Voltando para São Paulo.

O carnaval paulistano rebaixou em 2019 a principal escola de samba da cidade, a Vai-Vai. São mais de 90 anos de história, a com maior número de campeonatos, a que mais atrai turistas... E a Saracura amarga agora o gosto do primeiro rebaixamento. E fim. Isso nem é mais uma questão em discussão nas plenárias dos presidentes. Porque o episódio, apesar de triste, ficou em 2019. E quando o assunto é Carnaval, já estamos em 2020.

Os dirigentes cariocas parecem não se preocupar com a imagem do evento como um todo. Eles ignoram, inclusive, que existe um debate na cidade para que não seja liberado subvenção municipal para as escolas de samba. Ou seja, elas seriam dependentes exclusivamente dos direitos de transmissão dos desfiles e de patrocínio privado. Agora fica a dúvida: quem vai querer atrelar a marca ao duvidoso?

O que está em jogo aqui é mais do que a maior cultura popular do país, não é a vitrine do País para o exterior nem a paixão do público. Estamos falando de dinheiro, algo que deveria interessar em muito a quem produz o caro espetáculo.

Os torcedores, por sua vez, organizaram uma petição online para manter o resultado. O que, provavelmente, será um esforço em vão. O texto diz que a vidada de mesa “fere o princípio da transparência”, compromete a “já desgastada credibilidade” e pode afastar “os verdadeiros interessados: o povo do samba e o público”.

A verdade nisso tudo é: está difícil defender o Carnaval do Rio de Janeiro.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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