Análise: qual é a sua melhor vida: a real ou a virtual?
Brasil bateu a casa dos 210 milhões de habitantes em 2019, sendo que 70% têm acesso à internet e mais de 140 milhões estão ativos nas redes sociais
Patricia Lages|Do R7
No relatório Digital 2019, feito pela We Are Social, da Hootsuite, foram divulgados diversos dados sobre os brasileiros e as redes sociais. O estudo aponta o Brasil como o segundo país com maior permanência de tempo na internet, perdendo apenas para as Filipinas.
Enquanto a média mundial de navegação diária na internet é de 6 horas e 42 minutos, o brasileiro passa 9 horas e 29 minutos por dia conectado. Se confrontarmos esse alto índice de permanência com as péssimas estatísticas de produtividade no trabalho veremos que a relação não pode ser mera coincidência.
Considerando que a carga horária de trabalho geralmente é de 8 horas por dia, o que faz as pessoas passarem mais tempo conectadas do que dedicadas ao expediente? Obviamente boa parte dessa permanência na internet está relacionada ao trabalho em si, mas ao levantarmos as estatísticas da presença brasileira nas redes sociais, também veremos que o tempo gasto no mundo virtual é enorme.
O que tenho me perguntado é: por que as pessoas passam tantas horas vivendo uma vida virtual, enquanto na vida real estão quase sempre atrasadas e reclamando cada vez mais da falta de tempo? E onde estão aquelas pessoas tão felizes que aparecem no Facebook e Instagram se o número de pessoas depressivas só aumenta? E onde encontramos aquelas pessoas que dizem amar o que fazem e postam imagens lindas com a hashtag #lovemyjob?
Basta reparar em como somos atendidos em lojas, recepções, escritórios e em praticamente tudo para ver que uma coisa não condiz com a outra. O que impera na prática é a lei do mínimo esforço e, claro, sempre de cara amarrada. Mas, para além das sensações, o estudo “Smiling Report”, feito pela empresa sueca Better Business World Wide, avaliou 1,7 milhão atendimentos em 69 países e apontou o Brasil como penúltimo colocado no raking da simpatia. E o que mais causa tristeza é que não éramos antipáticos no trabalho, nós perdemos uma das qualidades mais marcantes que tínhamos.
Nesta primeira análise do ano, o que gostaria de trazer à reflexão é que o mundo virtual não condiz com o real e o fato de não entender isso tem adoecido muita gente. Nas redes, tão facilmente manipuláveis, as pessoas podem ser o que não são e forjar uma vida que simplesmente não existe. Isso não é positivo nem para quem cria – porque sabe que é mentira – e nem para quem consome – porque acredita que é verdade.
Meu desejo é que, em 2020, você viva a sua vida real e que ela seja melhor do que a sua vida virtual. Que você não se exponha tanto e que, igualmente, não se deixe tão exposto. Dessa forma, creio que seu ano poderá ser mais feliz, de verdade.
Patricia Lages
É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. Ministra cursos e palestras, tendo se apresentado no evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard (2014). Na TV, apresenta o quadro "Economia a Dois" na Escola do Amor, Record TV. No YouTube mantém o canal "Patrícia Lages - Dicas de Economia", com vídeos todas as terças e quintas.
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