Crise na educação brasileira não é crise, é projeto de empobrecimento do ensino
69% dos alunos do 9º ano do fundamental de SP apresentaram conhecimentos abaixo do adequado em português, em 2019

Décadas atrás, o antropólogo e historiador Darcy Ribeiro, disse: “A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. Em plena era da informação e com a inteligência artificial se estabelecendo cada vez mais, a afirmação teria sido apenas um equívoco ou alguma espécie de previsão?
De acordo com o Unicef (Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância), no Brasil, 56,4% das crianças do 2º ano do ensino fundamental da rede pública de ensino não sabem ler e escrever.
Segundo os resultados do PISA 2022 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes conduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE), cerca de 50% dos estudantes brasileiros de 15 anos ficaram abaixo do nível básico de leitura, o que significa que não conseguem interpretar textos simples em seu próprio idioma.
Já o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística afirma que 93% da população acima de 15 anos é alfabetizada no país.
Para analisar o que, em um primeiro momento pode parecer uma disparidade, é preciso entender que o IBGE considera oficialmente alfabetizada a pessoa que sabe ler e escrever um bilhete simples ou uma lista de compras. Ou seja, ainda que a pessoa não produza e nem compreenda algo minimamente mais elaborado do que uma lista de supermercado ou um bilhete (que pode se resumir a uma frase simples), já é o suficiente.
Da mesma forma, com níveis de exigência cada vez mais frouxos, caminha todo o resto: se as crianças abandonavam a escola ao repetirem de ano, o estado brasileiro “resolveu” eliminando a reprovação. A evasão escolar realmente caiu, porém, levou consigo o aprendizado.
Hoje, com o sistema de progressão continuada – onde a passagem para o ano seguinte é automática – é possível avançar um bocado ainda que o aluno não saiba quase nada, nem ao menos ler e escrever de forma minimamente adequada. A Prova Brasil, uma das avaliações obrigatórias, por exemplo, é aplicada apenas no 5º e 9º ano do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio.
O sistema de avaliação de rendimento escolar do Estado de São Paulo – um dos pioneiros na implantação da progressão continuada – mostrou que, em 2019 (quando a última prova antes da pandemia foi aplicada), 69% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental tinham conhecimentos abaixo do adequado em português.
Que futuro terá um país onde sete a cada dez alunos não têm conhecimento adequado de sua própria língua? Ao que tudo indica, o projeto a que Darcy Ribeiro se referia segue de vento em popa.