Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto
27 de janeiro é dia de relembrar a morte de seis milhões de judeus e de outras milhões de vítimas do nazismo
Patricia Lages|Do R7 e Patricia Lages
Pepi Berger-Schreier, nasceu em 1902, em Stettin, na Alemanha. Aos 20 anos de idade, casou-se com Ephraim Berger, um comerciante de tecidos de 33 anos com quem teve seis filhos: Moshe, que faleceu ainda bebê, os meninos Felix e Eduard, as meninas Judith e Marlit e o caçula Joachim.
A vida era tranquila, com exceção de um ou outro contratempo, como quando sua filha mais velha foi expulsa da casa de uma amiga quando os pais dela descobriram que Judith era judia. Mas foi em 1938 que a vida de Pepi começou a desmoronar.
A Gestapo – polícia secreta nazista – invade o apartamento da família em busca de seu marido, que consegue se salvar escondendo-se no sótão. Pepi e seus filhos fogem para a Polônia, enquanto Ephraim permanece na Alemanha tentando obter vistos para emigrar com a família para os Estados Unidos. Em 1940, a Gestapo prende Ephraim ao sair da Embaixada Americana e o envia a um campo de concentração.
Em 1941, Pepi se despede de seu filho mais velho, Felix, que consegue um visto e embarca para os Estados Unidos, enquanto ela e seus quatro filhos são enviados para o gueto de Radom e forçados a viver no pequeno quarto de um apartamento onde moravam outras famílias judias. Para sobreviver, Pepi e Judith conseguem trabalho como costureiras de espartilhos, até que, em 1942 recebem a notícia de que Ephraim foi executado.
Do gueto aos campos de concentração e à perda da identidade
No ano seguinte, Pepi e seus filhos são deportados e passam a viver em campos de concentração na Polônia: primeiro Majdanek e depois Plaszow, onde Judith é selecionada para trabalhos forçados. Joachim, o caçula da família é deportado para outro campo, onde é executado. Agora, a família se resume a Pepi, Eduard, Judith e Marlit, que são transferidos para o campo de Wieliczka para trabalhar nas minas de sal.
Em setembro de 1944, Pepi e seus filhos são deportados para a Alemanha e enviados ao mais temido de todos os campos nazistas: Auschwitz-Birkenau.
Agora as mulheres não têm mais nome, mas são tatuadas com números de identificação: A-26061 para Pepi, A-26062 para Judith e A-26020 para Marlit.
Separação, deportações, fome e fuga
Em janeiro de 1945, Eduard é separado da família. Pepi, Judith e Marlit não sabem se Eduard foi executado, mas não há tempo para lamentar mais uma perda, pois todas as mulheres capazes de andar são forçadas a uma marcha da morte, a caminho de Ravensbruc. Lá, elas são confinadas em um acampamento superlotado até os nazistas decidirem seus destinos. Seriam deportadas da Alemanha? Algum dia teriam notícias de Eduard? Continuariam juntas?
Pepi, Judith e Marlit permanecem juntas e na Alemanha. Primeiramente são enviadas a Malchow, onde passam fome por seis semanas. Fracas e doentes, as mulheres são transferidas para Taucha, um subcampo que logo seria fechado. Pepi e suas filhas decidem escapar durante o encerramento do campo e escondem-se no quartel abandonado. Quando a polícia nazista cessa as buscas, as três saem do esconderijo e fogem para as linhas americanas, onde reencontram Eduard e são libertadas.
Vida nova para os sobreviventes
A família se muda para a Suíça, mas em abril de 1946, com o apoio do Conselho Judaico Mundial, Pepi e seus filhos partem para Nova York, nos Estados Unidos. É na América que todos reconstroem suas vidas, deixando para trás os horrores do Holocausto. Nada irá apagar as memórias de dor, sofrimento, preconceito e morte, mas todos estão decididos a viver. Todos são sobreviventes e estão dispostos a provar que o nazismo não os venceu.
Judith se forma no Ensino Médio e conhece seu futuro marido, Arnold Becker, com quem se casa em 1948. O casal tem quatro filhos que lhe dão vinte e seis netos. Marlit se casa com Arnold Wandel, tem dois filhos e vive em Nova York.
Em 1971, Pepi se muda para Israel, onde vive por 28 anos. Pepi falece em junho de 1999, aos 97 anos, exatamente onde desejou: na cidade santa, Jerusalém.
Esta é uma das muitas histórias inspiradoras de sobreviventes do Holocausto nazista, porém, há milhões delas que nunca serão contadas, pois foram interrompidas pela insanidade de uma ideologia que elevou o preconceito a um nível inimaginável.
Seis milhões de histórias que jamais serão contadas
Segundo o Museu Estadunidense Memorial do Holocausto, “o Holocausto nazista foi um genocídio sem precedentes, total e sistemático, com o objetivo de aniquilar o povo judeu”.
De 1933 a 1941, a Alemanha nazista cerceou os direitos dos judeus, tomando suas propriedades e fechando seus negócios. Em 1941, os nazistas e os seus colaboradores deram início às execuções em massa do povo judeu, até que, em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, seis milhões de judeus foram assassinados.
Seis milhões de histórias jamais serão contadas, além das histórias de outras milhões de vítimas do nazismo que foram interrompidas por uma ideologia insana que insiste em rondar a humanidade até os dias de hoje. É preciso recordar sempre, pois um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la.
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