Mulheres são gravadas nuas em clínica e têm imagens expostas na internet
Clientes acusam dona de clínica de estética em Fortaleza de filmá-las nuas sem consentimento e expor as imagens online
Patricia Lages|Do R7

Na última segunda-feira (11), foram postadas em uma rede social de Val Silveira, dona de uma clínica de estética em Fortaleza, no Ceará, imagens de clientes nuas e seminuas durante os atendimentos. Os registros foram publicados com tarjas que cobriam partes do corpo das mulheres e convidavam as pessoas a enviar mensagens para acessar mais imagens.
Algumas das mulheres expostas afirmaram que o material foi filmado e publicado sem consentimento, enquanto a dona da clínica diz ter sido vítima de um ataque hacker. A Secretaria de Segurança Pública investiga a denúncia e trata o caso como “crime contra a dignidade sexual praticado em ambiente virtual”. De acordo com a Polícia Civil, vários boletins de ocorrência foram registrados no 6º Distrito Policial da cidade, tanto por vítimas quanto pela acusada, e posteriormente transferidos à Delegacia de Defesa da Mulher.
A influenciadora Beth Campêlo, uma das clientes expostas, publicou um depoimento em uma rede social em que afirma que Silveira a filmava dissimuladamente durante trocas de roupa e procedimentos e que o mesmo ocorreu com mais de dez mulheres.
Campêlo disse ter sido colocada por Silveira em um grupo virtual chamado “Vou provar que sou inocente”, juntamente com outras vítimas. Segundo a influenciadora, a dona da clínica teria contado ao grupo uma história “totalmente fantasiosa”, na qual acusa um suposto “namorado virtual” de ter mandado sequestrá-la e instalado um aplicativo para assumir o controle de seu celular. Dessa forma, o hacker teria filmado as clientes remotamente, a partir de São Paulo, e feito as publicações sem que ela tivesse nenhuma participação.
A influenciadora afirma que uma pessoa lhe encaminhou vídeos nos quais Silveira teria gravado os próprios filhos nus e que essa seria a motivação para levar a questão a público. “Custe o que custar, eu não vou deixar isso passar, porque não é mais sobre mim, não é mais sobre uma pessoa não ter uma profissão, mas sobre um monstro”, declarou a influenciadora.
O que diz a lei e como se precaver
Rafael Paiva, advogado criminalista e professor de direito penal, processo penal e Lei Maria da Penha, esclarece que “quem faz o registro de imagens incorre no crime de registro não autorizado de intimidade sexual” e que as penas vão de seis meses a um ano de prisão, além de multa.
“Para quem eventualmente divulgar essas imagens, o crime praticado é o do artigo 218-C do Código Penal, com penas que vão de um a cinco anos. Já temos decisões de tribunais em todo o Brasil com condenações para essas práticas ilegais”, acrescenta o especialista.
Paiva aconselha às mulheres que verifiquem as avaliações e a reputação das empresas antes de qualquer contratação. “Se no local há alguma câmera de segurança instalada de forma ostensiva, vale a pena indagar o motivo pelo qual ela se encontra instalada e até mesmo solicitar atendimento em outro local, caso desconfie de algo”, orienta.
Caso haja exposição sem consentimento, o mestre em direito indica o que deve ser feito: “O primeiro passo é o registro do boletim de ocorrência, de forma presencial ou eletrônica.
Após o registro inicial, as vítimas devem procurar um advogado para ingressar com uma ação cível indenizatória, além de acompanhar as investigações e a respectiva ação penal.
Onde está a sororidade?
Diante de casos em que o acusado é um homem, geralmente não faltam grupos feministas manifestando-se ostensivamente contra o machismo, o sexismo e a misoginia. Porém, quando os protagonistas dos mesmos crimes são as próprias mulheres, não é vista a mesma atuação.
Infelizmente, casos como o da clínica de Fortaleza, que ainda está sob investigação, não são isolados, mas cada vez mais comuns. É preciso que os movimentos de proteção às mulheres deixem de fomentar essa guerra contra os homens e passem a atuar de forma prática e assertiva para resguardar as mulheres desse tipo de violência, seja ela causada por quem for.
Também é curioso ver mulheres acusando as vítimas de estar “querendo aparecer” e de receber “o que merecem” por recorrerem a “tratamentos desnecessários”.
Infelizmente, muitas vezes as maiores algozes das mulheres são as próprias mulheres, por isso é preciso que respeito, tolerância e sororidade deixem de ser apenas palavras para quem ainda não entendeu que o que importa não é o gênero.
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