Regulação da internet pode por fim à verificação de fatos
Com promessa de combater fake news, regulação das redes sociais pode promover efeito diametralmente oposto
Patricia Lages|Do R7
Só na semana passada duas fake news publicadas por grandes veículos de comunicação – ambos proprietários de agências de checagem – foram desmentidas por usuários do Twitter e, em seguida, repostadas amplamente em outras redes sociais.
Uma das notícias, publicada por O Globo, traz a manchete: “Brasileira transexual é agredida com bastão, chutes e gás pimenta por policiais em Milão”. A matéria exibe até um vídeo para comprovar o ataque a quem parecia ter sido agredida gratuitamente em mais um caso de transfobia.
Em resposta, usuários do Twitter publicaram o motivo de a polícia ter reagido ostensivamente, incluindo links de jornais italianos descrevendo o ocorrido na íntegra. Segundo a imprensa local, a transexual se despiu diante de uma escola, na frente de crianças, gritando frases sem sentido e ameaçando infectar com HIV quem se aproximasse.
Denunciada pelos pais dos alunos, a mulher trans reagiu violentamente à prisão, o que fez os policiais recorrerem à força. Diante de um possível surto psicótico, a polícia italiana chamou uma ambulância para prestar socorro à brasileira, porém, os paramédicos não conseguiram atendê-la devido ao alto grau de agitação.
Outra fake news foi a acusação por parte da colunista Giovana Madalosso, da Folha de S. Paulo, de que uma casa em Urubici, Santa Catarina, exibe uma saudação nazista. A jornalista afirma que a palavra “Heil”, que aparece no telhado da propriedade, seria “possivelmente” uma “alusão ao nazismo” e chega a chamar a estrutura de “telhas arianas”. Madalosso aproveitou para criticar tanto os catarinenses quanto Jair Bolsonaro, afirmando conhecer bem o eleitorado do estado, cuja maioria “votou em um fascista”.
Apontando a falsa acusação, usuários do Twitter esclareceram que Heil é o sobrenome do construtor Valmor Heil, especializado em casas de temporada. Diante da repercussão nas redes sociais, a Folha se retratou, afirmando que “a falta de uma rigorosa checagem de dados, conforme recomenda o Manual da Redação, levou ao erro cometido pelo jornal”.
É justamente a liberdade da qual os usuários das redes sociais disfrutam que permite que fake news – publicadas por quem quer que seja – venham ser desmentidas e a verdade prevaleça. Sem isso, corremos o risco de uma inundação de notícias falsas sem que haja qualquer contraponto, o que seria o extremo oposto do que a regulação diz combater. Estejamos atentos.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.