A chuva que semeou o caos no Rio Grande do Sul. E as histórias da cobertura da tragédia
Há uma semana as chuvas castigam o Rio Grande do Sul. Estou vivendo a rotina de quem tenta remover pessoas de áreas alagadas e resgatar a própria vida
Já são cinco dias de uma cobertura marcada pelo drama, por cenas de desespero e sofrimento. De relatos de quem perdeu tudo para as enchentes provocadas pelos temporais e de quem tenta remover pessoas e animais presos.
Chegamos em uma Porto Alegre que começava a ser devastada pela força das águas. O Guaíba já rompia a comporta 14, as ruas do centro já começavam a ser tomadas pela enchente. Em menos de 10 horas vimos o hotel onde nos hospedaríamos ser cercado e inundado pela enchente.
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Corremos pra zona norte, um misto de pânico e adrenalina. Como mostrar o que estava acontecendo e, ao mesmo tempo, manter a cabeça centrada diante de tanto desespero? Não consegui! Meu lado humano sobrepôs o lado jornalista e me comovi com as famílias. Aquilo já me parecia surreal demais.
Vi um bairro inteiro desaparecer em minutos. Vi famílias perdendo a história de uma vida, vi animais acuados em cima de telhados implorando por ajuda. Um misto de cansaço e indignação por quem clamava por socorro.
Nos dias seguintes, a dificuldade de acesso. O segundo hotel que ficamos também foi engolido pelas águas. Quase ficamos presos em meio às avenidas que começavam a encher. Aí o jornalista corajoso deu espaço ao seu humano, o fio de medo e o peso da responsabilidade de zelar por minha equipe. Dois pais de família que atenderam meus pedidos para revelar histórias.
No terceiro dia surgiu a tosse. A chuva e o pé na água me deixaram com a imunidade baixa, mas continuamos com nossa missão de informar.
Ver pessoas que precisavam de voz foi o combustível para os seis dias que estou aqui. Diante disso, percebo a forte necessidade que existe em repensar a política pública de gestão em cidades como Porto Alegre e estados como o Rio Grande do Sul.
A mudança climática tem sido devastadora e como líamos os mapas meteorológicos já não poderá ser a mesma.
Vi grande parte dos resgates serem feitos pelo próprio povo gaúcho. Até a chegada dos socorristas oficiais foram eles que entraram na água com botes, barcos e veículos aquáticos. Em meio à tragédia, vi ali a essência do brasileiro. Ninguém solta ninguém e ninguém fica sozinho.
Devo voltar nos próximos dias a São Paulo. O esgotamento já me tomou.
Mas volto fortalecido por saber que acima de tudo nosso povo está protegido, não por bandeiras políticas, mas pelo zelo maternal de nosso próprio povo. Esse é o maior legado e aprendizado diante de dias tão tenebrosos.
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